A Bíblia cristã como temos hoje foi decidida no Concílio de Trento, no século XVI, na época de Lutero. Nesse encontro da Itália se definiu uma vez por todas a lista dos livros bíblicos, mas o processo foi bem complexo e envolve uma história comprida.

Nesse período definiu-se a diferença entre bíblia católica e bíblia protestante, com Lutero que decide relativizar o valor dos 7 livros do Antigo Testamento que não constam na lista da Bíblia Hebraica, do Antigo Testamento. Os católicos, invés, afirmaram definitivamente que aqueles livros fazem parte da lista oficial dos livros bíblicos.

O Concílio de Niceia foi celebrado em 325. Alguns dizem que nessa reunião os bispos decidiram quais são os evangelhos que deviam fazer parte da Bíblia, mas não há provas disso. Os principais temas desse Concílio foi a questão ariana, a celebração da páscoa, a profissão de fé, entre outros (veja mais).

 

Os Critérios de Definição do Cânon

Em que coisa a Igreja se apoia para definir o cânon dos livros sagrados? Uma primeira resposta, do ponto de vista católica, que precisa de uma reflexão, nos é dada pelo último Concílio Vaticano II, segundo o qual é “a mesma tradição que faz a Igreja conhecer o cânon dos livros sagrados” (DV 8). Porém a tradição precisa, por sua vez, de critérios para ter certeza de qual tradição se trate: por exemplo, se esteja em jogo a tradição apostólica, ou simplesmente uma tradição eclesiástica. Esta é a questão dos critérios de canonicidade que foi objeto de disputas sobretudo a partir do século XVI com Erasmo e com os protestantes. Erasmo espalhou as dúvidas dos primeiros séculos sobre a origem apostólica de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, e de algumas perícopes evangélicas, tais como Mc 16,9-20; Lc 22,43s; Jo 7,57-8,11.

Estas seções foram submetidas ao juízo do Concílio de Trento que, depois de ter exibido o elenco definitivo da Bíblia, declarou: “Se alguém não aceitar como livros sagrados e canônicos estes livros, inteiros com todas as suas partes, assim como se é costume lê-los na Igreja católica e se encontrem na edição antiga da Vulgata latina, e desprezará as preditas tradições, seja anátema” (DS, 1501). Lutero considerava secundários, em relação ao testemunho dado a Cristo, os mesmos escritos rejeitados por Erasmo e os colocava no fim de sua tradução em alemão da Bíblia.

Movido por um evangelismo radical, Lutero considerava que o critério determinante para reconhecer um escrito canônico fosse o seu urgere Christum (propor energicamente, fazer valer Cristo), o seu levar e comunicar Cristo (was Christum treibt). Escrevia Lutero: “Isso que não ensina Cristo, não é apostólico, mesmo se o ensinassem Pedro ou Paulo. Vice-versa, isto que anuncia Cristo é apostólico, mesmo se o fazem Judas, Ana, Pilatos ou Herodes”. Em resumo, para Lutero era determinante o critério cristológico que lhe fazia dizer: “Enquanto os adversários fazem valer a Escritura contra Cristo, nós fazemos valer Cristo (urgemus Christum) contra a Escritura”.

Não podemos negar que a fixação do cânon é um ato da Igreja, ou da Tradição, que opera na Igreja. O concílio de Trento acrescenta para a definição do cânon dois argumentos: o uso de ler determinados livros na Igreja e a sua presença na Vulgata latina. Na verdade esses dois argumentos servem para dizer que se reconhecem como canônicos aqueles livros que a tradição da igreja lê. A tradição dos primeiros séculos deveu articular os próprios critérios de canonicidade. Eles são três: a autoridade apostólica, enquanto livros escritos pelos apóstolos ou por seus colaboradores diretos; A ortodoxia dos escritos, enquanto conformes à regra de fé, ou seja, à fé transmitida pelos apóstolos e professada na Igreja apostólica; a catolicidade dos escritos, enquanto reconhecidos por todas ou maior parte das igrejas.

Repetimos de novo a pergunta: de onde vem a certeza para a Igreja sobre os livros canônicos? É claro que à Igreja não foi dada uma revelação especial sobre isso. Assim a resposta é: a Igreja, querendo exprimir fielmente a mensagem de Cristo, reconheceu sempre mais claramente a insuperável importância daqueles 27 escritos que lhe eram transmitidos desde a idade apostólica.

Convido a ler esse artigo, onde a questão é tratada de forma mais abrangente.