Você não vai encontrar uma resposta para essa sua pergunta. Lendo a Bíblia com os óculos críticos, sem usar aqueles da fé, aparecerão diversas interrogações como esta, que você pôs. Essas perguntas não são irracionais e nem é errado fazê-las. O fundamental é a atitude de quem busca a resposta. A resposta não deve derivar da lógica do texto, isto é, da nossa concepção moderna de leitores e sedentos de conhecimento histórico. A Bíblia não é somente um livro histórico. É a narração da história de uma caminhada de fé. E essa narração é feita por alguém que experimentou e viveu de modo intenso a fé. Sem fé a Bíblia é lida de modo parcial e, muitas vezes, errôneo. Tentar encontrar uma resposta, nesse caso, é ler a Bíblia em modo errado.

Falando concretamente da sua questão, como já tivemos oportunidade de frisar neste espaço, a descrição da criação contada na Bíblia não é uma narração histórica. É uma narração antiga que tenta interpretar, graças aos instrumentos disponíveis na época do autor e à inspiração divina, como surgiu a vida na terra. Quando a Bíblia fala que Caim conheceu sua mulher (Gênesis 4,17), da qual nasceu Henoc, não significa que na história desse homem existiam somente seus pais.

A história do Paraíso (em hebraico gan Eden = Jardim das delícias - A palavra "Paraíso" vem da tradução grega da Bíblia, a Setenta) se apoia em contos mitológicos assírio-babilônicos. A sua intenção é descrever o "jardim de Deus" (veja Ezequiel 28,13 e 31,9), que é o oposto da estepe, da terra árida, sem água (veja Isaías 51,3). No Jardim de Deus tem vida e fora dele há morte.