Você faz bem em perguntar sobre os textos do Apocalipse, pois para bem ler esse livro é necessário bastante estudo, visto que o estilo é completamente estranho à nossa realidade e, ao mesmo tempo, a sua leitura é influenciada por tantas interpretações erradas, principalmente aquelas que veem esse livro como um sinal de catástrofe, coisa que passou a identificar a palavra "apocalipse". Na verdade é "Revelação" da mensagem de Deus, usando uma linguagem simbólica particular, típica de um movimento literário e teológico que existia no tempo de Cristo.

Para entender esse livro, a solução é contar com a ajuda de comentários e outros textos disponíveis também online, que contam com alguma autoridade que vai além do fanatismo religioso. Veja os artigos já publicados aqui no site sobre esse livro.

Vamos aos textos que você menciona.

 

Apocalipse 11,19

Abriu-se então o Templo de Deus que está no céu, e apareceu no Templo a arca da aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de pedra.

O contexto desse livro é a "sétima trombeta", isto é, o som dos 7 anjos das 7 igrejas. Ná prática o sétimo anjo testemunha a potência de Cristo (v. 15), que julga e extermina "os que exterminam a terra". É nesse contexto de esperança para quem ouve essa trombeta que aparece o templo de Deus. Ele não está mais em Jerusalém, isto é, não é mais provisório, que pode ser destruído; está no céu, a habitação definitiva de Deus, com a Arca da nova aliança, que se traduz na morada definitiva e eterna de Deus com o seu povo. Os eventos meteoróligos e outros que seguem são simples modo de chamar a atenção do leitor para o fato que algo de importante está acontecendo, isto é, Deus que se revela: é uma teofania.

 

Apocalipse 12

No texto de Apocalipse 12 encontramos a célebre visão da Mulher e do Dragão: u

m sinal grandioso apareceu no céu: uma mulher vestida com o sol... Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão... O dragão postou-se diante da mulher que estava para dar à luz...

As duas figuras têm elementos que são colocados em contraste. A primeira é inimiga de Cristo e amiga de Satanás e a segunda, ao contrário, é inimiga de Satanás.

A mulher de Apocalipse 12 é representada “vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”. Essas características não são só enfeites, mas transmitem uma mensagem, que se esclarecem a partir da leitura do sonho de José, narrado em Gênesis 37. A passagem mostra o jovem patriarca que conta aos irmãos o sonho que teve: «Tive outro sonho: o sol, a lua e onze estrelas se prostravam diante de mim» (Gênesis 37,9). Tal sonho suscitou a raiva dos irmãos e, em certo sentido, também do pai, que interpreta corretamente o seu significado: «Que sonho é esse que você teve? Quer dizer que eu, sua mãe e seus irmãos vamos prostrar-nos por terra diante de você?» (Gênesis 37,10). A simbologia é evidene e mostra os patriarcas que fundam Israel: Jacó (sol), Raquel (Lua) e os 11 irmãos de José.

Israel, em hebraico, é um termo feminino e sempre foi representado por uma mulher na tradição profética do Antigo Testamento.

Por isso, é lógico concluir que a mulher do Apocalipse é uma representação celeste de Israel, aquele fiel que é também o cristianismo verdadeiro, como se vê no final do capítulo, onde João diz que são os “os que obedecem aos mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus (12,17).

É importante, por último, notar que a mulher está no céu, lugar onde acontecem as visões, fora de espaços temporais e espaciais. Isso permite ao autor passar entre passado, presente e futuro. Assim, o vegente vê diante dos olhos os eventos da história da salvação, que compreende a história de Israel, aquele próprio do seu tempo e também o nosso, aquele do leitor atual.

A mulher estava grávida e dá à luz a um filho varão. Não é possível aplicar a informação contida em 12,5 para ler uma clara menção à Maria, mãe de Jesus. De qualquer forma, é verdade que estamos diante de um parto messiânico: um parto celeste de um “homem”, que é ‘tirado’ da mãe e ‘levado para junto de Deus’, esperando eventos futuros não muito claros. É provável que não se trata de uma visão da história linear, mas a explicação que o plano de salvação divino foi pensado desde sempre e que o demônio se opõe a esse plano, que compreende a vinda do salvador, que vem para combater o pecado do demônio.