Os primeiros 5 livros da Bíblia formam o assim chamado "Pentateuco": Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. É a Torah, em um dos significados específicos que esse termo tem, a Torah escrita, que na tradição judaica é acompanhada sempre pela Torah oral, que é o conjunto das tradições interpretativas hoje reunidas no Talmud e Midrash.

Muitos traduzem "Torah" como "Lei". Isso conduz a um erro básico. De fato, a tradução dessa palavra deve ter em conta os verbos "guiar/ensinar", que estão à base da palavra hebraica. Nesse sentido, a tradução correta seria "ensinamento" ou "doutrina" ou ainda "instrução".

A partir dessa introdução você já se dá conta que a sua pergunta ganha uma perpectiva diferente. A "Lei" tem uma consequência opressiva. O "ensimamento", invés, é uma escolha que alguém abraça.

O ensinamento, a Torah, abrange aspectos concretos da vida quotidiana do povo hebraico. Há indicações de comportamento para várias realidades, seja na relação com Deus que com as pessoas  e coisas com que se convive.

Os primeiros livros da Bíblia contém muitas orientações para a vida do povo. É ali, por exemplo, que se define como celebrar a Páscoa dos judeus, quando se conta a saída do Egito (Êxodo 13), como se deve construir (veja a partir de Êxodo 25), o respeito do Shabat (Êxodo 35), os sacrifícios (a partir de Levíticos 1), sobre o que é puro e impuro (Levíticos 11), etc. Há também regras nas relações humanas, seja relacionadas com o sexo (Levíticos 18) que com a família e visinhos (Levítico 19-20).

É difícil fazer uma síntese. E o que nos pode resultar embaraçante é que, embora fale de coisas muito concretas da vida, há tantas realidades atuais que ficam fora dos ensinamentos presentes naquelas páginas. De fato, aqui no site, é comum pedidos de conselho sobre o que a Bíblia diz a respeito de realidades atuais, como o uso da TV ou da internet, por exemplo. Ali no pentateuco não tem nada referente a isso. Isso testemunha que a Bíblia é um livro que nasce da vida do povo, inserida num contexto real, diferente do nosso. Ensinamentos basilares servem ainda para nós. E é atrás deles que teremos que ir. Obviamente não tem sentido nos preocupar com a prática concreta das regras relativas aos sacrifícios, mas é importantíssimo prestarmos atenção na regra de santidade, na necessidade de sermos santos como é o Senhor, na teologia e parenese que derivam desses ensinamentos.