Como já repetimos, sabemos que Jesus queria que os cristãos fossem “um”, unidos como uma família, expressão da união celeste. Mas desde o início, esse princípio foi continuamente ameaçado e transgredido. Hoje pensamos que desde o início a igreja era bem organizada e com uma estrutura rígida. É verdade que desde o início o núcleo dos apóstolos garantiu uma caminhada unida da igreja nascente, mas uma estrutura como imaginamos só existiu muito tempo mais tarde, com um percurso histórico muito complicado e difícil de descrever em poucas palavras. Em síntese, a história do cristianismo é bem complexa e a Igreja Católica faz parte dessa complexidade.

No início, houve muitas correntes dentro do cristianismo ligadas a várias ideias teológicas que se transformaram em seguida em seitas. É melhor não chamar como “religião”, pois religião é o cristianismo em geral, que compreende diferentes denominações. Essas correntes cristãs foram se separando de uma linha central, que tinha mais força, permanecendo o núcleo do cristianismo. Mesmo assim, uma visão correta não as pode excluir.

 

Católicos

Esse adjetivo tem a ver com a índole do cristianismo: significa “universal”. A doutrina de Cristo é presente em todo o universo, destinada a todos. Por isso, esse adjetivo deveria pertencer a todos os cristãos. Infelizmente desavenças históricas fizeram com que esse adjetivo permanecesse ligado apenas a um grupo de cristãos, àqueles em comunhão com o papa de Roma, embora também os cristãos ortodoxos, corretamente, se digam “católicos”.

 

Oriente e ocidente

Menciono de maneira rápida um background importante para entender as divisões na igreja católica, chamada assim há muito tempo. A história da igreja está intimamente ligada à história política da região da Europa e do Oriente Próximo. Desde 286 existiam duas partes do Império que governava essa região, uma tinha como sede Constantinopla e a outra a sede era Roma. Depois, quando se decretou que a capital fosse Roma, essas duas sedes continuaram existindo para o cristianismo: a sede (ou sé) da igreja ocidental era Roma e a da oriental era Constantinopla. Apesar de duas sedes, existia uma só igreja cristã.

O Papa era a autoridade máxima da igreja, no continente europeu, e havia duas outras autoridades, chamadas de Patriarcas, uma em Alexandria (Egito) e outra em Constantinopla (Turquia). Quando Alexandria foi anexada pelo Egito ao Império Muçulmano, deixou de ser importante, restando somente Constantinopla, atual Istambul.

A distância entre as sedes fez com que aos poucos se criassem dificuldades de relação entre elas e também diferentes visões teológicas (a questão do Credo Apostólico - filioque) e litúrgicas. Essas diferenças foram crescendo e em 867 os católicos de Constantinopla deixaram de aceitar a autoridade da igreja de Roma, que, por sua vez, polemizou com a atitude das autoridades de Constantinopla de se submeter ao chefe secular (Papa Leão IX).

 

Primeiro grande cisma

Em 1043, o Patriarca Miguel Cerulário assumiu a Igreja Bizantina (Oriente) e desenvolveu campanhas contra a Igreja Latina (Ocidente), que mandou o Cardeal Humberto até Constantinopla para solucionar a questão teológica que as diferenciava. O Cardeal resolveu excomungar o Patriarca do Oriente e toda a Igreja oriental reagiu e excomungou o Papa Leão IX, do Ocidente. Esta ruptura ou dissensão ficou chamada como o Cisma do Oriente, ou o Grande Cisma, que originou a Igreja Ortodoxa ou Igreja Católica do Oriente, separando-se da igreja Católica do Ocidente, a romana.

Desde a metade do século passado (Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I) há tentativavas de aproximação, embora a separação continue até hoje.

 

Protestantes

Outra grande etapa na divisão da igreja foi aquela protagonizada por Lutero, há cerca de 500 anos. Essa divisão, nascida dentro da Igreja Católica Romana, acontecida oficialmente durante o Concílio de Trento (1545-1563), deu início a toda a “família evangélica”, bem conhecida hoje no nosso mundo cristão, com diferentes denominações (veja detalhes aqui).