A sua pergunta se refere ao relato do paraíso, que aparece em Gênesis 2 - 3. Como repetimos em continuação, aqui no site, os primeiros capítulos de Gênesis não são informações históricas, no sentido que estamos acostumados a entender, mas o autor que escreveu essas histórias, da criação até o dilúvio, quis interpretar, sob a luz da fé, o mistério da vida e a sua relação com Deus. Para tanto, usou elementos mitológicos e o conhecimento científico limitado, conforme o contexto em que vivia. Essa premissa é importante, por que fundamental para entender a mensagem contida nessa história da serpente, da árvore e do paraíso em geral.

Todavia, prestemos atenção: embora não seja uma coisa “histórica”, é algo verdadeiro, pois traz uma verdade fundamental para a nossa vida: se observamos a Lei de Deus viveremos em um paraíso, mas se seguirmos por uma estrada errada, seremos “expulsos” da felicidade paradisíaca.

Lendo a história do “fruto proibido” sob essa perspectiva, conseguimos fazer uma exegese muito simples e clara.

 

A árvore no centro do jardim

Deus coloca o homem e a mulher em um lugar ideal, “o jardim em Éden”, que chamamos de paraíso. Deus estabelece um limite: não se pode tocar a árvore que está no centro do jardim! Essa é a chave de leitura para Gênesis 3. Parece um verdadeiro paradoxo: um lugar ideal com uma proibição, mas esse “limite” é a condição para a felicidade humana. A árvore da vida é como se fosse um enorme outdoor: o ser humano é criatura e será feliz se obedecer ao Senhor, seu criador! E a tentação que aflige a humanidade, representada pela serpente, é ser autossuficiente, não admitir o seu limite de criatura, pensar que é senhor do criado.

A promessa do “tentador” é que se o homem e a mulher comessem da árvore, seus olhos se abririam e seriam “versados no bem e no mal” e seriam “como deuses”. Aqui está muito evidente o problema e a proposta da serpente: os dois, comendo da árvore, se tornam “deuses”. A árvore está lá exatamente para dizer que tem um Deus que está acima das criaturas. E é esse Deus que estabelece o que é bem e o que é mal. Quando o ser humano pretende ocupar o lugar de Deus, estraga tudo, estraga a ordem e provoca a morte. Esse é o pecado que está sempre batendo à nossa porta e é uma tentação que aflige em todo momento a humanidade. Infelizmente apenas depois do pecado - e nem sempre - o ser humano se descobre nu, limitado no seu erro e as consequências do pecado, muitas vezes, não se podem cancelar, porque inerentes à liberdade dada por Deus à humanidade.