O tema do livre arbítrio é fundamental para entender a nossa relação com Deus. Sendo uma coisa fundamental, como sempre acontece, não é fácil de explicar.

Em relação a sua pergunta, não conheço a teologia que você menciona sobre a "livre agencia", mas certamente está fundada em uma visão calvinista do ser humano como escravo do pecado, "miserável servo do pecado". É provável que, nesta perspectiva, com essa distinção entre "livre arbítrio" e "livre agência" se sublinhe a possibilidade de Adão de escolher entre o bem e o mal e, visto o nosso estado de escravos, a incapacidade que temos de poder nos livrar do peso do pecado.

Penso, porém, que essa distinção entre "dois" seres humanos possa criar alguma confusão, ao invés de ajudar. Adão não é um personagem histórico, mas a imagem, o arquétipo do ser humano. Por isso, poderíamos dizer que aquilo que dele (e de Eva!) é narrado, nos primeiros capítulos da Bíblia, acontece com todos nós.

Embora reconheça uma falta de clareza, tenho medo que a distinção entre essas duas situações seja apenas uma maneira de salvar ideias teológicas confusas, como aquela da predestinação. De fato a Predestinação à qual somos chamados não é uma realidade mágica, mas uma realidade ideal, à qual é necessário chegar. A graça de Deus a garante potencialmente, mas o êxito está intimamente ligado ao dom da liberdade, presente dado ao ser humano.

 

Livre arbítrio e liberdade

Partimos do princípio que Deus, como diz Siracide 15,14, quis deixar o homem entregue à sua própria decisão. Isso para que procure por conta própria estar próximo do seu Criador e, livremente, abrace a Sua proposta e se realize como pessoa. Sendo racional, o ser humano é semelhante a Deus, livre e dono das suas ações.

Porque o seu destino é Deus, enquanto não vivemos com Ele, a liberdade humana implica a possibilidade de escolher entre o bem e o mal. Fazer o bem significa aumentar a liberdade e o mal, que conduz à escravidão do pecado, é um abuso da liberdade.

A consequência da liberdade, no bem e no mal, é que somos responsáveis por aquilo que fazemos, ao menos enquanto feitos voluntariamente.

Aconselho também a leitura dessa outra resposta sobre o livre arbítrio.