O judaísmo, no tempo de Cristo, era a religião do Povo de Israel, ao qual pertencia Cristo e os apóstolos. Na verdade, quando Cristo nasceu, já haviam judeus, os gentios, que não eram do povo de Israel, mas tinham outra origem: podiam ser gregos ou romanos, por exemplo.

É importante sublinhar que estamos falando de uma parte do Oriente Próximo e não de toda a humanidade. De fato, no tempo de Cristo haviam muitas outras religiões e muitos deuses eram venerados e adorados em diversas partes do mundo, mesmo em ambiente grego e romano com quem Israel tinha contato.

Os primeiros anos do cristianismo, como podemos ver principalmente no livro dos Atos dos Apóstolos, foi caracterizado por uma "mistura" particular com o judaísmo. Os primeiros cristãos eram todos judeus e só aos poucos a doutrina de Cristo começou a se espalhar pelas regiões da Ásia Menor até chegar  a Roma. Um dos protagonistas desse processo foi Paulo. Nas suas viagens, é evidente que os destinatários de suas mensagens eram principalmente os judeus, pois preferia pregar nas sinagogas por onde passava.

 

Concílio de Jamnia

Por volta do ano 90, na cidadezinha de Jamnia, os judeus, sob a liderança do Rabino Ben Zakai, definiram a própria identidade diante de dois aspectos importantes: a presença dos cristãos e a destruição do templo de Jerusalém, que acontecera cerca de 20 anos antes. Esse evento é chamado de Concílio de Jamnia. Sem entrar em detalhes sobre o que se decidiu, basta sublinhar que isso demonstra que a religião judaica seguiu seu percurso independente dos cristãos. Aliás, houve, no decorrer da história, muito conflito com os cristãos, que tem sido sanado, com dificuldades, somente nas últimas décadas.

Atualmente, o judaísmo é uma religião praticada por milhões de pessoas e se encontra em toda as partes do mundo. Há várias correntes, mas, de maneira sintética, tem o Antigo Testamento como livro de base, juntamento com a literatura rabínica (lei oral). Os judeus, como os católicos, acreditam em Yahweh como o único Deus e seguem os preceitos que se encontram na Bíblia. Jesus, para eles não é o Messias anunciado pelo Antigo Testamento; ainda deve vir.

 

Diálogo interreligioso

Nós cristãos, durante a história, fomentamos a perseguição dos judeus por causa de ensinamentos preconceituosos e sem fundamentos. Hoje, na grande maioria das igrejas, essa atitude mudou. Esse comportamento foi incentivado por reconhecimentos como o do Papa João Paulo II, visitando a sinagoga de Roma em 1986, disse que os judeus são nossos "irmãos maiores na fé". No ano passado o Papa Francisco, visitando o mesmo local disse: "todos nós, cristãos e judeus, pertencemos a uma única família, a família de Deus, que nos acompanha e nos protege como seu povo".

Esse progresso não é só católico. É algo alcançado graças ao esforço de muitas igrejas também protestantes, cujo compromisso com o diálogo interreligioso começou imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial. Expressão disso é o documento conhecido como "Os Dez Pontos de Seelisberg" produzido em 1947 pelo Conselho Internacional de Judeus e Cristãos, na sua segunda reunião na Suíça (foto ao lado). Coloco abaixo os 10 pontos, que servem para nós hoje entender a devida relação de cristãos com a religião judaica:

l. Deve-se relembrar que um só e mesmo Deus nos fala no Antigo e no Novo Testamento.

2. Não se pode esquecer que Jesus nasceu de mãe judia, pertencia à família de Davi e ao povo de Israel, e que seu amor eterno abrange o seu povo e o mundo inteiro.

3. Recorde-se ainda que os primeiros discípulos, os apóstolos e os pri- meiros mártires eram judeus.

4. Tenha-se presente que o principal mandamento do cristianismo, o amor de Deus e do próximo, anunciado no Antigo Testamento e confirmado por Jesus, obriga igualmente cristãos e judeus, em todas as relações huma- nas.

5. Deve-se evitar diminuir o judaísmo bíblico e pós-bíblico para exaltar o cristianismo.

6. Não se deve empregar a palavra “judeu” para designar exclusiva- mente os inimigos de Jesus, e as palavras “inimigos de Jesus” para designar o povo judeu em seu conjunto.

7. Não se deve apresentar a Paixão de Jesus como se todos os judeus, ou somente os judeus, tivessem incorrido na odiosidade da crucificação. Não foram todos os judeus que pediram a morte de Jesus, nem foram somente judeus que se responsabilizaram por ela. A Cruz, que salva a humanidade, revela que Cristo morreu pelos pecados de todos. Pais e mestres cristãos deveriam ser alertados a respeito de sua grande responsabilidade na maneira de narrar os padecimentos de Jesus. Se o fazem de uma forma superficial, correm o risco de fomentar aversões no coração das crianças ou dos ouvin- tes. Numa mente simples, movida por um ardente amor compassivo pelo Salvador crucificado, o horror natural dos perseguidores de Jesus pode facil- mente tornar-se, por motivos psicológicos, ódio indiscriminado pelo judeu de todos os tempos, inclusive de nossos dias.

8. Não se devem evocar as condenações bíblicas e o grito da multidão enraivecida: “Que seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,25) sem relembrar que esse grito não anulou as palavras de nosso Senhor, de conseqüências incomparavelmente maiores: “Pai, perdoa-lhes; eles não sa- bem o que fazem” (Lc 23,24).

9. É preciso evitar qualquer tentativa de mostrar os judeus como um povo reprovado, amaldiçoado e votado a um sofrimento perpétuo.

10. Deve-se mencionar que os primeiros membros da Igreja eram judeus.