Essas duas palavras fazem parte do primeiro capítulo do livro do Génesis, em que a descrição da criação do mundo é apresentada na sucessão de sete dias. A narrativa da criação do homem, no sexto dia, diversifica-se um pouco das descrições precedentes.

Nos primeiros dias, o autor sagrado conta só do ato da criação, expresso com as palavras: "Disse Deus" - "seja...". Quando se trata do homem, o autor inspirado quer primeiro colocar em evidência a intenção e o desígnio do Criador (de Deus-Elohim). Lemos de facto: "Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança" (Gênesis 1,26). Como se o Criador entrasse em Si mesmo; como se, criando, não só chamasse do nada à existência com a palavra "seja", mas como se, de modo particular, tirasse o homem do mistério do seu próprio ser. Isto é compreensível, porque não se trata somente do Ser, mas da Imagem. A imagem deve "espelhar", deve, em certo modo, quase reproduzir "a substância" do seu Protótipo. O Criador diz, além disso: "à nossa semelhança". É óbvio que não se deve entender como um "retrato" mas como um ser vivo, que viva uma vida semelhante à de Deus.

Só depois destas palavras, que testemunham, por assim dizer, o desígnio de Deus-Criador, a Bíblia fala do ato mesmo da criação do homem:

Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher (Gênesis 1,27).

Esta descrição completa-se com a bênção. Há portanto: o desígnio, o ato mesmo da criação e a bênção:

Abençoando-os, Deus disse-lhes: Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra (Gênesis 1, 28).

 

O homem criatura privilegiada

São conhecidas as numerosas tentativas que a ciência fez — e continua a fazer — nos vários campos, para demonstrar os laços do homem com o mundo natural e a sua dependência deste, com o fim de o inserir na história da evolução das diversas espécies. Todavia, se analisamos o homem no mais profundo do seu ser, vemos que ele mais se diferencia do mundo da natureza do que a ele se assemelha. Neste sentido procedem também a antropologia e a filosofia, quando procuram analisar e compreender a inteligência, a liberdade, a consciência e a espiritualidade do homem.

O livro do Gênesis parece ir contra todas estas experiências da ciência, e, falando do homem como "imagem de Deus", dá a entender que a resposta ao mistério da sua humanidade não se encontra no caminho da semelhança com o mundo da natureza. O homem parece-se mais com Deus do que com a natureza. Neste sentido diz o Salmo 62,6: Vós sois deuses, palavras que depois retomará Jesus.