É verdade, trata-se da primeira oferta apresentada a Deus na narração Bíblia. Caim e Abel, ambos filhos de Adão e Eva, se tornam respectivamente agricultor e pastor. Caim apresentou frutos do solo a Deus e Abel apresentou "as gorduras do seu rebanho" (Gênesis 4). Deus agradou-se do sacrifício de Abel, mas não daquele de Caim.

Essa narração bíblica não é histórica, como bem sabemos, mas são narrações com elementos mitológicos que tentam revelar a verdade sobre a origem do ser humano, criatura de Deus. Sabemos bem que em todas as culturas, mesmo naquelas muito mais antigas do que a do povo hebreu, haviam sacrifícios. Mesmo os índios do continente americano faziam ofertas a seus deuses. Portanto, a novidade bíblica não está em si na oferta, mas ao Deus ao qual se ofertava.

A Bíblia descreve como, com o tempo, a oferta é uma atividade reservada ao sacerdote, que recebia essa missão por causa da sua origem genealógica. É provável que antes, nos tempos mais antigos, não era exatamente assim. De fato, há várias pessoas que fazem ofertas mesmo não sendo sacerdotes. Assim fez Saul, mas também Davi e Salomão. Também os profetas, como Elias, faziam ofertas.

Antes de ser "profissionalizada" a oferta era expressão devocional, provavelmente feita por todos que queriam agradecer, de alguma maneira a Deus. Para orar não precisa de preparação.

Na mundo de hoje, embora existam os sacerdotes ordenados, é importante notar que todos nós somos sacerdotes, pois, como lembra a Bíblia (Êxodo 19), somos um reino de sacerdotes.

 

Por que Deus não aceita o sacrifício de Caim?

Lembramos das palavras de Jesus que diz  (Mateus 5,23): se alguém vai a Deus para aparesentar uma oferta e tem algum problema com seu irmão, é necessário resolver a questão antes de apresentar a oferta. Penso que essa é a chave de leitura para poder interpretar a narração de Gênesis 4.

Nós conhecemos a resposta que Caim deu a Deus quando perguntou "onde está teu irmão Abel": "não sei... Não sou guarda do meu irmão". Essa atitude de Caim não existe apenas depois que ele assassina o irmão, mas é algo que já estava no seu coração antes que o matasse. É por isso que a oferta não é aceitada por Deus.

É interessante notar que no sermão da montanha, Jesus fala da relação entre oferta e perdão exatamente depois de ter falado do mandamento que proíbe matar (Mateus 5,21-24):

21 «Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: ‘Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal’. 22 Eu, porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal. Quem diz ao seu irmão: ‘imbecil’, se torna réu perante o Sinédrio; quem chama o irmão de ‘idiota’, merece o fogo do inferno. 23 Portanto, se você for até o altar para levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, 24 deixe a oferta aí diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com seu irmão; depois, volte para apresentar a oferta.