Para nós ocidentais e modernos é muito difícil digerir algumas passagens dos livros do Pentateuco. Não é fácil lidar, por exemplo, com os tantos capítulos que detalhadamente falam de como deve ser a Tenda do Convenho, que acolhe a Arca da Aliança, ou com como devem ser as roupas dos sacerdotes, narradas nos mínimos detalhes. Já no livro do Êxodo, vários capítulos trazem esses detalhes misturados com a epopeia da caminhada do povo pelo deserto.

 

Como entender isso?

Não podemos entender esses textos se não encontramos a alma profunda da religião. Moisés, na sua ação de conduzir o povo pelo deserto, pede aos hebreus que tenham uma alma livre e não feita de excesso de coisas, de um deus materializado, "coisificado". Esse é o ensinamento que deriva do episódio do Novilho de Ouro, feito para substituir a Deus.

Se falta o cerne, a fé profunda em Deus, a religião pode ser até magia, feita de atos estéreis, áridos, cheias de normas, rúbricas e leis de diferentes gêneros superficiais. O "excesso" religioso pode ser sintoma de uma religião não alimentada da fé, mas meros atos mágicos.

Martin Buber conta que um rabino, que estava para morrer, repetia as palavras do Canto de Moisés: um Deus fiel que precisa ser amado com todo o coração. E dizia que essa era a quinta essência da Lei, da Torah, saper que Ele é um Deus fiel que precisa ser amado com todo o coração. Poderíamos então nos perguntar: para que é necessário todas as outras leis da Escritura, pois bastaria que Deus tivesse dito, no Sinai, apenas esse versículo. O rabino então responde: ninguém pode compreender esse único versículo (um Deus fiel precisa ser amado com todo o coração) e viver-lo plenamente se não aprende, com humildade, a praticar as normas da Torah.

As normas que encontramos na Bíblia são o caminho, a estrada. Se se transformam em fim a religião se torna um peso. Elas são instrumentos que nos levam a descobrir o verdadeiro sentido de nossa vida religiosa, da minha relação com Deus, descobrinho que existe um Deus fiel ao qual devo dar a minha vida, o meu coração.