A palavra "Hermenêutica" vem do grego ἑρμηνευτική (ermeneutikè), que tem sua raiz no verbo ἑρμηνεύω (ermenèuo), “explicar / interpretar / traduzir”. É o mesmo verbo que se encontra em João 1,42: "Tu és Simão, filho de João; chamar-te-ás Cefas, que se traduz  [ἑρμηνεύεται (ermenèutai)] ‘Pedra’”.

Junto com o verbo grego, a palavra "hermenêutica" tem também o termo τέχνη (tèchne), “arte”. Portanto, em síntese, podemos dizer que "hermenêutica" é a arte de interpretar. Pode ser aplicado a qualquer campo, seja da filosofia que da literatura. Em relação à Bíblia, quando se diz "hermenêutica bíblica" se entende as regras que são aplicadas para uma correta compreensão do texto sagrado.

Da experiência que temos aqui no site, é evitende que as pessoas têm diferentes regras para interpretar o texto bíblico, pois há muitas perspectivas sobre um mesmo texto. Era assim também no passado. É por isso que se fala de escolas hermenêuticas. Normalmente, de Alexandria e Palestina, se fala, mais do que hermenêuticas, sobretudo de linhas teológicas

 

Alexandria - Alegoria, simbolismo

Alexandria já antes de Cristo, por causa dos judeus que se mudaram para lá, era um centro importante da religiosidade judaica. De fato, foi naquele contexto que se realizou a primeira tradução da Bíblia (39 livros escritos em hebraico do Antigo Testamento), para o grego (Septuaginta ou LXX). Filone de Alessandria foi protagonista na interpretação bíblica, criando um grande contraste com a exegese rabínica da Palestina, que se inspirava na ortodoxia, na interpretação literal, e rejeitava todo influxo helenistico que estava invadindo toda a região. Filone, invés, ajudado pela filosofia, queria colocar em destaque os princípios da fé e da sabedoria dos judeus. E para isso renunciou à interpretação literal do texto bíblico

Em relação ao cristianismo, seguindo a linha já determinada pelo pensamento judaico, foi ali que nasceu, se podemos assim dizer, uma filosofia cristã, onde se deu a passagem entre o pensamento clássico e um sistema de pensamento cirstão. Um dos protagonistas desse fenômeno é, sem sombras de dúvidas, Orígenes (185 - 254 depois de Cristo). Do seu pensamento poderíamos caracterizar a linha de interpretação bíblica que vem daquela escola. O elemento predominante é a alegoria. Não queremos ser mal interpretados, escrevendo poucas linhas sobre um tema tão complexo. Todavia, em linhas gerais poderíamos dizer que Orígenes, vendo Deus como único autor da Bíblia e não podendo ter nessa obra algum erro, é necessário que nós leitores façamos um esforço para entender o sentido daquilo que nela encontramos. Por isso, quando o sentido literal da Palavra de Deus é difícil de entender, é necessário ignorá-lo, superando a evidência, e buscar a intenção escondida do texto. Em resumo, poderíamos dizer que o autor bíblico dizia coisas que eram superiores a ele mesmo, pois havia um sentido escondido nas suas palavras. Um exemplo prático que pode explicar essa lógica se vê quando o povo no deserto levanta a serpente de bronze; é uma alegoria de Cristo na Cruz que salva a humanidade.

 

Palestina - Sentido literal, histórico

A palestina é o lugar da tradição, da instituição. Por isso, de lá podemos esperar um conservadorismo mais assíduo. A leitura bíblica dessa região pode ser caracterizada como uma interpretação da bíblica que considera o sentido claro e compreensível, exceto no caso em que o texto não indique que se trate de uma linguagem simbólica, como por exemplo nas parábolas, onde é evidente que as histórias são inventadas para transmitir uma mensagem.

 

Uma terceira escola - Crítica

É uma característica moderna da leitura bíblica. Um dos elementos que a caracteriza é o uso da ciência para interpretar a Bíblia: são aplicadas metodologias científicas quando se considera o texto sagrado, tais como a crítica textual, a crítica das formas literárias, das fontes usadas, a resposta do leitor, etc.

Embora seja muito importante e usada por todos nós biblistas, é mister considerar que a Bíblia não é um mera obra literária. É um livro de fé e por isso a sua interpretação deve conter também esse elemento. Isto é, deveríamos nos perguntar se alguém que se diz ateu pode ler de maneira excelente a Bíblia. Basicamente, a nostra resposta é negativa. Sem fé não é possível colher todo o sentido contido na Bíblia.