Olá Luciano Ribeiro de Brasília - DF!

A pergunta, em forma ampla, foi assim exposta.

Sou evangélico e gostaria que explicassem o porquê de que algumas passagens entre os Evangelhos são divergentes em alguns pontos, vejam: Exemplo: Mateus 20, 30: Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que Jesus passava, começaram a gritar: Lucas 18, 35: Ao aproximar-se Jesus de Jericó, estava um cego sentado à beira do caminho. Mateus 8, 28: No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois possessos de demônios saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro. Lucas 8, 27: Mal saltou em terra, veio-lhe ao encontro um homem dessa região, possuído de muitos demônios. Mateus 26, 7: Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça. João 12, 2-3: Deram ali uma ceia em sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. Mateus 27, 32: Saindo, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, a quem abrigaram a levar a cruz de Jesus. João 19, 17: Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz.

Resposta a pergunta de Luciano Ribeiro!

A sua pergunta é muito interessante e atual. O homem e a mulher moderna começaram a se perguntar a respeito destas diferenças encontradas nos evangelhos e que são motivos também de suas perguntas. Estas questões duvidosas encontradas nos textos dos evangelhos até pouco tempo não eram feitas, simplesmente a Bíblia era de inspiração divina e não se questionava, não se perguntava de possíveis erros, repetições, fatos alterados etc. Era lida, mas não se perguntava o porquê das diferenças de texto. Neste tempo admitia-se que na Bíblia não houvesse erro ou omissão de palavras ou textos. Apartir de 1900, com o avanço das ciências, e do querer tudo provar materialmente, desafiou os estudioso da Bíblia a buscarem respostas para questões que pareciam serem erros ou que não se encontravam provas materiais. Surgiram nestes estudos, (falo somente do Novo Testamento e dos evangelhos sinóticos), a chamada questão sinótica, que passou a identificar os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas com muita proximidade e semelhança. O evangelho de João passou a ter uma interpretação distanciada dos outros porque foi o último a ser escrito (95 d.C.).

Com os estudos realizados e a busca de maiores esclarecimentos, com o auxílio das ciências, como, história, geografia, arqueologia, línguas, etc, os textos do Novo Testamento com dificuldade de compreensão pelas contradições que encontravamos começaram a serem esclarecidos.

Tudo o que você colocou de dificuldades nos textos bíblicos para interpretar, em nada desmerecem o fato essencial narrado, seja a Parábola ou seja o Milagre.

As diferenças aparecem, por muitos motivos, e cada um destes motivos merecem uma longa explicação e estudo.

Passamos enumerar alguns pontos que ajudam a entender as diferenças entre os evangelhos, quanto ao texto, se querer esvaziar a questão:

Na leitura do texto bíblico se deve dar consideração a estes pontos:

1 - Locais do Império Romano em que os evangelhos foram escritos.

2 – Identificar o redator do evangelho, sua personalidade, compreensão religiosa, cultural lingüística etc.

3 - Comunidades onde foram escritos os evangelhos e outros textos, seja Jerusalém, Roma, Antioquia ou Éfeso.

4 - Pessoas que acolheram este evangelho e sua compreensão.

5 - Motivos em que foram escritos. Ex: Evangelho de Marcos seria uma catequese de Pedro. João narra para a comunidade fatos da vida de Jesus em uma releitura existencial etc...

6 –-Cada comunidade valorizou mais um ou outro ensinamento de Jesus e procurou deixar por escrito como resposta a comunidade. Por este motivo muitas narrativas estão num evangelho e não estão em outro.

Poderíamos enumerar muitas outras, mas penso que já seja o suficiente para uma primeira constatação. A pergunta certamente vai ajudar a você buscar respostas nos textos de milagres, ensinamentos de Jesus mais difíceis.

Penso que na descoberta destas diferenças e semelhanças dos textos aguçarás a mente e melhorará a compreensão do texto, reavivarás a fé e a aceitação do projeto de Jesus que esta nos evangelhos e que foi vivido por muitas comunidades espalhadas pelo Império Romano.

 

Concluindo

A riqueza da existência dos quatro evangelhos está no esforço e na tentativa da comunidade em viver a proposta de Jesus. No evangelho está escrito o que Jesus quer que a comunidade de fato faça. As parábolas, os milagres as orientações que cada comunidade buscou, nos ajudam a entender melhor o que Jesus propunha. A riqueza do texto do evangelho não seria tão grande se no evangelho fosse recontado apenas os fatos que dissessem respeito a uma comunidade. Bom trabalho.