Gênesis 6,5-6 dá as razões pelas quais Deus manda o dilúvio sobre a terra:

5. Iahweh viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que era continuamente mau todo desígnio de seu coração.
6. Iahweh arrepdendeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e afligiu-se o seu coração.

Sabemos que por isso veio o dilúvio sobre a terra e a vida foi regenerada. A água dá nova vida, como podemos ver em várias outras passagens na Bíblia, desde a atravessia do Mar Vermelho até a teologia sobre o Batismo.

O arrependimento de Deus nesse versículo contrasta, na nossa mentalidade, com a ideia da eternidade divina, que faz com que Deus seja imutável. O arrependimento de Deus pode ser colocado junto com outros paradoxos bíblicos. O mais evidente é o da violência, muitas vezes, na Bíblia, praticada em nome de Deus. Parece que Deus pede a morte de certas pessoas. Isso estaria em profundo contraste com a ideia de que Deus é amor. Se Deus é amor, como pode querer o mal de alguém?

O leitor da Bíblia, depois de um período de entusiasmo, começa a se interrogar sobre essas aparentes incongruências e é normal que nasçam perguntas do tipo que você fez. É claro que temos que aprender a nos deixar envolver pelo mistério e pensar que não existe resposta para tudo, mas podemos, com certeza, fazer algumas reflexões.

Deus não muda - o que muda é a compreensão humana de Deus
Esta é a principal reflexão que precisamos fazer. No curso da história, graças também à evolução da revelação, a ideia sobre Deus vai mudando até chegar à clareza perfeita, que se encontra em Cristo. O que encontramos na Bíblia, embora seja palavra inspirada pelo Espírito Santo, foi escrito por mãos humanas. Portanto são textos influenciados pela compreensão contemporânea dos autores, limitados pelas condições da época em que o autor viveu. Em poucas palavras, não foi Deus que se arrependeu, mas o autor que julga o dilúvio como um arrependimento de Deus. Não é Deus que pede a morte de certas pessoas, mas quem escreveu o relato pensa que aquela seja vontade de Deus.

Jesus mudou de ideia?
Um texto que sempre me chamou a atenção e que me faz pensar com certa frequência é o encontro de Jesus coma a mulher cananeia (Mateus 15,21-28), que tinha uma filha doente. A mulher corria atrás de Jesus, mas Jesus parece ignorá-la, dizendo que o seu público era a "casa de Israel". Sendo ela estrangeira, parece que Jesus não quer dar atenção a ela, pois diz: "Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos." Interpretando essa frase, os filhos seriam os da "casa de Israel" e a mulher cananeia, os estrangeiros, os "cachorrinhos". Continuando a leitura do texto, no fim, Jesus "se converte" e cura a filha da mulher.

A pergunta que fica é se estamos diante apenas de uma catequese de Mateus ou realmente Jesus se deixa convencer pela mulher, pela sua fé. Seria um exemplo de "mudança" de ideia de Deus e, ao mesmo tempo, um exemplo emblemático para todos nós seus seguidores, de deixar de lado nossas própria convicções e aprender a escutar os outros.