Retomando um tema tratado em precedência, primeiro de tudo notemos o seguinte:

No Antigo Testamento existe uma proibição fundamental de fazer imagens (Êxodo 24,4 seguintes), com a qual se exclui todo tipo de culto aos deuses estrangeiros. Apesar deste veto, a existência de imagens devocionais e cultuais em Israel é atestada do próprio Antigo Testamento e também de achados arqueológicos. A crítica profética pressupõe o abuso do uso de imagens (Juízes 6,25; 1Reis 11,5-8; 16,31-33; Jeremias 19,4s; Ezequiel 8,5ss; Oséias 11,2). No culto a Yahweh, graças à influência do mundo cananeu, também foram usadas imagens (Êxodo 32,1ss; Números 21,8s; Juízes 8,26s; 1Reis 12,28). É muito discutida a temática de uma imagem encontrada entre algumas ruínas que contém uma frase estranha: “Yahweh e a sua Asherah”. Há também o problema dos monumentos comemorativos (massebot), que provavelmente haviam um significado cultual (Gênesis 28,12.22; 35,14; Josué 4,4-9), tanto que foram posteriormente criticados (1Reis 14,23; 2Reis 18,4; 23,14; Oséias 3,4; Miquéias 5,12).

Yahweh Deus único?

O parágrafo acima, sinteticamente diz que no início da história de Israel o uso das imagens, dos ídolos não era claramente regulamentado e que, na prática, muitos usavam imagens. É claro que no final passou a setença ditada em Êxodo 24, mas historicamente é provável que esse texto foi escrito muitos anos depois que os fatos aconteceram, até mesmo séculos. Provavelmente é resultado das várias reformas religiosas promovidas pelos líderes de Israel, por Josias principalmente (2Reis 23), que viveu por volta de 650 antes de Cristo, cerca de 400 anos depois de Salomão. Josias implantou em Israel o culto exclusivo a Yahweh, destruindo os santuários e objetos de cultos existentes dedicados a outros deuses. Portanto, é provável que antes de Josias existisse um sincretismo religioso que pouco conhecemos e procuramos, de propósito, ignorar, em vista da "ideologia" implementada pelo culto centralizado promovido em Jerusalém.

Esse processo não falsifica a nossa fé, mas faz parte da história da revelação de Deus, que se manifesta na história. Mas é importante nos questionar sobre o conhecimento que temos de tal percurso.

Salomão

Entrando no vivo da sua pergunta, sobre as atitudes religiosas de Salomão, é provável que Salomão não fosse um adorador perfeito de Yahweh, como talvez o imaginamos. Ele foi o terceiro rei de Israel, louvado pela sua sabedoria. Mas a sua 'culpa' foi ter vivido há muito tempo, como dissemos acima, há cerca de 400 anos da reforma de Josias. Aquilo que sabemos dele foi escrito somente muito tempo depois dos fatos terem acontecidos, não antes da dita reforma de Josias.

Um dos fatores objetivos que podemos observar na biografia de Salomão que influenciam "negativamente" sua religiosidade é o fato que ele, como era comum entre os soberanos, fez muitas alianças com povos estrangeiros que se concretizaram graças a inúmeros casamentos com mulheres estrangeiras, que tinham os próprios deuses. A Bíblia conta que chegou a ter 700 mulheres e 300 concubinas. Sobre isso leia principalmente 1Reis 11. Nos versículos 4 e 5 desse capítulo se diz:

Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomäo, suas mulheres lhe perverteram o coraçäo para seguir outros deuses; e o seu coraçäo näo era perfeito para com o SENHOR seu Deus, como o coraçäo de Davi, seu pai.
Porque Salomäo seguiu a Astarote, deusa dos sidónios, e Milcom, a abominaçäo dos amonitas.