Não é bíblico. A fé não se compra e tanto menos a resposta divina aos nossos pedidos. A religião não tem a mesma lógica do supermercado, onde você vai, deixa uma quantia e, em troca, pega certas mercadorias.

Através da Bíblia vemos que tudo o que somos e temos foi dado gratuitamente por Deus (veja Mateus 10,8) e não depende nem de quanto dinheiro temos e não da cor da nossa pele; Deus faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos (Mateus 5,45). Ou seja, a graça divina não é condizionada pela nossa ação. Só pelo fato de sermos suas criaturas, somos agraciados. Se Deus fosse alguém que dispensasse a sua bondade somente a certas pessoas, seria exclusivista e interesseiro. Podemos falar isso de Deus?

Obviamente, se é assim, é natural nos perguntar sobre o sentido das nossas ações. Ou seja: para que rezar, fazer o bem, se, por princípio, já temos tudo?

Deus, na sua magnanimidade não impõe nada a ninguém. Somos livres de aceitá-lo ou de ignorá-lo. Acolher Deus, ter fé, é um processo individual e se realiza através de ações concretas. Se gosto de um amigo, mesmo se ele me quer bem independente das minhas ações, vou procurar estar em contato com ele, para o meu próprio bem. Essa é a lógica da oração: é uma necessidade nossa e não de Deus. Isso vale também para outras ações religiosas que fazemos: somos nós que temos necessidade de nos sentir próximos de Deus. Ele está sempre próximo a nós!

Em relação ao dinheiro, Deus não precisa da nossa bondade manifestada com a doação de quantias exorbitantes. Nisso tudo vejo somente uma possibilidade de visão cristã. A caridade traz muito bem às pessoas, pois ajuda a criar uma harmonia perdida com o pecado, com a ganância. Repartir com quem tem menos é um gesto muito cristão e ajuda a instaurar o Reino de Deus aqui na terra. Todavia deve ser um gesto gratuito, sem esperar nada em troca. Trata-se de uma dinâmica completamente diferente de quem dá dinheiro esperando em ter tanto mais em troca. Isso não é cristão, mas simplesmente expressão da ganância típica do consumismo e capitalismo, onde predomina a vontade de ter, em detrimento do ser.