Para completar a sua pergunta, o nosso leitor acrescenta:

Jeremias 51:17-18: Embruteceu-se todo homem, de modo que não tem conhecimento; todo ourives é envergonhado pelas suas imagens esculpidas; pois as suas imagens de fundição são mentira, e não há espírito em nenhuma delas. 18 Vaidade são, obra de enganos; no tempo em que eu as visitar perecerão.
A Bíblia terminantemente adverte (Is 45:20) "Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar."

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Claudio, o seu texto, mais do que uma pergunta, é um desabafo. Por isso, do meu ponto de vista, cabe apenas um comentário, que pode soar muito subjetivo.

O nosso site tem como princípio o diálogo. Nós autores, de formação católica, acreditamos que a Bíblia é o ponto por excelência que nos une, a partir do qual podemos nos sentar e conversar. Todo encontro, obviamente, supõe respeito e, ao menos, consciência que estamos diante de alguém que tem algum valor. Cabe a cada um de nós fazer um grande esforço; despir-se dos preconceitos e tentar escutar, oxalá iluminados pela Palavra de Deus. A igreja católica, como é seu dever, tem feito um grande esforço (com certeza ainda é pouco) para abrir-se ao diálogo. Vamos tentar, também nós, entrar nessa dinâmica.

 

Quando lemos a Bíblia a tendência é aplicar-la à vida. Isso foi uma conquista e representa um elemento metodológico muito válido. Por isso, quando você lê Jeremias e Isaías, que ,nas passagens que você cita, falam da Babilônia e dos seus habitantes, projeta a sua interpretação em direção aos católicos, centrando a prática do culto aos santos. Ao lado do critério que você usa na sua interpretação, é fundamental acrescentar o instrumento histórico-crítico. Ou seja, é muito importante inserir o texto no seu contexto histórico. Se você não realiza esse processo, como interpretaria, no mesmo capítulo frases como "afiai as setas, enchei as aljavas" (51,11) (...) "Porque Iahweh não só planeja, mas também executa tudo o que disse contra os habitantes da Babilônia (51,12)"?

 

Os profetas estão lendo os acontecimentos relativos ao exílio do povo hebreu em Babilônia, quando ele estava terminando, sob a ótica do poder de Iahweh. Os adoradores de falsos deuses são os habitantes da Babilônia, povos estrangeiros. Se de um lado Jeremias é decisivo e até cruel, narrando a destruição final da Babilônia, do outro Isaías é mais esperançoso, em relação à Babilônia. Descreve a conversão dos povos: caminharão atrás de ti (Israel), seguindo-te em cadeias, prostrar-se-ão diante de ti e com voz súplice dirão: "Só contigo Deus está! Fora dele não há nenhum Deus".

 

Aplicar essas palavras à prática do culto aos santos não é uma interpretação justificada, embora a questão do culto aos santos deva ser discutida. Os católicos, que estimam e veneram os santos, têm consciência que existe um único Deus, coisa que não acontecia com os povos estrangeiros na época dos hebreus. A frase de Isaías (Fora dele não há nenhum Deus) é uma máxima que impera também no coração dos católicos. Por isso acho que seja muito mais coerente ligar uma eventual discussão sobre o culto aos santos à questão da mediação de Jesus e não àquela da idolatria, a qual se referem todos os textos do Antigo Testamento que falam de imagens. É por isso que acredito que toda argumentação em relação a este tema baseada em tais textos não seja válida. É importante que os católicos saibam que o único mediador é Cristo. Eles tem cosciência que Deus é único.

 

Outro aspecto da sua pergunta é a presunta arrogância dos católicos. Conhecemos bem a questão resumida na frase latina "Extra Ecclesiam nulla salus". Muitos tomavam esse princípio patrístico para afirmar que só quem estava dentro da igreja católica conseguia a salvação. Há muito tempo isso não é mais perseguido. Já desde a metade do século passado, com a Enciclica Mystici Corporis de Pio XII a igreja reconhecia que muitos alcançavam a salvação fora da Igreja. Isso foi sublinhado também em época mais recente, pela Comissão Teológica Internacional (1997) com o documento "O Cristianismo e as religiões". Além disso tenho certeza que a Igreja, no seu verdadeiro sentito, não se resume numa confissão, mas na união dos cristãos, que é uma meta a ser buscada.