O termo grego "Bíblia" pode nos ajudar a dar uma resposta a sua pergunta. É o plural de "biblos" e significa "livros", revelando um aspeto da natureza do nosso livro sagrado: estamos diante de vários livros, escritos em momentos diferentes e não de forma sitemática.

Quando falamos de Bíblia repassamos a ela a nossa mentalidade atual, pensando que ela nasceu como nascem hoje os livros que encontramos nas livrarias: um autor se senta, estuda e escreve, durante 2 ou 10 meses e, finalmente, entrega o manuscrito a um editor que se encarrega da sua publicação. Essa dinâmica, invés, não pode ser aplicada à Bíblia. Cada livro que a forma tem uma história particular, uma gênesis complicada. Primeiro de tudo é necessário sublinhar que a cultura semítica, de onde nasce o nosso livro, tem uma forte índole oral: as histórias eram contadas, narradas de pai para filho. Só mais tarde foram colocadas por escrito por algum escriba. Pode ser que ele simplesmente conhecia e reuniu essas histórias, sem ter sido necessariamente ele que as criou. Em outros casos, um pedaço de texto foi unido a outro e assim a obra aumentou, passando, digamos, pelas mãos de diferentes autores.

Há textos que são considerados muito antigos, como o canto da irmã de Moisés, depois da passagem no Mar Vermelho. Talvez tenha sido colocado por escrito já há 1000 anos antes de Cristo, mas não temos certeza, não tendo nada que prove isto. Outros textos são mais recentes. Os livros do Novo Testamento foram todos escritos no primeiro século da era cristã. Portanto, se o Canto de Mírian foi escrito há 3000 anos, os evangelhos foram escritos há certa de 2000 anos. Os últimos livros a serem escritos foram os escritos de João, Evangelho e Apocalipse. Isso foi por volta do ano 100 Depois de Cristo.

 

Provar uma data com o uso da própria Bíblia não é tarefa fácil. Nenhum livro tem uma data na intestação, ou informações do "editor" que diz em que ano foi imprimido. O que podemos fazer é nos ajudar com informações cruzadas. Por exemplo, se um livro fala de uma batalha, supomos que foi escrito depois desse evento. Essas são provas que os exegetas usam para argumentar a datação de um livro.

 

Também não é possível fazer testes sofisticados para determinar a data do livro como se faz, por exemplo, com achados arqueológicos. Isso porque não existem mais os originais da Bíblia, ou seja, não existe mais o texto original escrito, por exemplo, por Lucas. Hoje temos somente cópias feitas por escribas vários anos depois. Para termos uma idéia, o texto base (textus receptus) sobre o qual se baseiam as edições críticas de hoje é de 1008, o Código Leningradense, que contém o texto completo da Bíblia Hebraica (o Antigo Testamento).

 

Além desses aspectos, é preciso mencionar a questão do Cânon bíblico, ou seja, da lista de livros que compõe a Bíblia. Sabemos bem da diferença entre a Bíblia católica (com 73 livros) e a Bíblia protestante (con 66 livros). Esse resultado é a conclusão de discussões seculares, fixadas somente no século XVI, na época de Lutero. Poderíamos, de forma superficial, dizer que a Bíblia como temos hoje, seja ela católica ou protestante, foi "criada" nessa época, no Concílio de Trento.

 

Em síntese, não é possível dizer quantos anos tem a Bíblia e não há um versículo sobre o qual se basear pra defender uma data para o livro inspirado. Ele, invés, teve uma gênesis complexa: nasceu acompanhando a história do povo de Deus.