A oração é baseada na convicção de que Deus existe, escuta e responde a todos os seres humanos (Sl 65,2) �?? que Ele é uma divindade pessoal. De certo modo, é a resultado do conceito bíblico de que o ser humano foi criado �??à imagem e semelhança de Deus�?�(Gn 1,26-27), que implica, entre outras coisas, relação com Deus. Embora a oração tenha uma base intelectual, tem uma característica essencialmente emocional. �? uma expressão da busca do ser humano e sua ânsia de �??derramar�?� sua alma diante de Deus (Sl 42, 2-3; 62,9). Por esta razão a oração toma diferentes formas: súplica, confissão, meditação, louvor, recolhimento, agradecimento, adoração e intercessão. Embora se possa fazer uma distinção entre �??louvor�?�, �??confissão�?� etc., e oração no sentido mais formal de oração �??litúrgica�?�, a fonte é a mesma; no coração humano se fundem todas as categorias, a relação do �??Eu e o Tu�?�. Assim, oração e louvor se entremeiam (1Sam 2,1-10), súplica e ação de graças seguem o mesmo princípio (Sl 13,1-5). Muitas orações na Escritura parecem oscilar entre discurso e súplica (Ex 3-12), meditação e pedido (Jr 20,7ss), ou discussão e súplica (Job). O estilo variado da oração bíblica originou uma riqueza de terminologia para oração. Os rabinos já tinham notado que a �??oração é nominada por dez diferentes expressões�?� (Sif. Dt. 26), Fazendo uma análise mais apurada, se pode encontrar ainda mais. A palavra mais comum para a oração é tefilá (Is 1,15); o verbo correspondente é hitpallel (1Re 8,42). Na Escritura a raíz pll significa �??intervir, julgar, esperar�?� Estes significados são altamente apropriados para a concepção da oração bíblica como intercessão e auto-exame que conduz à esperança. Outros termos são: qara�?? (�??chamar�?� o nome da divindade, isto é., adorar �?? Gn 4,26); za�??aq (�??clamar�?� por socorro �?? Jz 3,9); shiwwa�?? (�??gritar�?� por ajuda �?? Sl 72,12); rinnah (�??clamor�?� de alegria ou tristeza - Sl 17,1); darash �??procurar�?� Deus �?? Am 5,4); biqquesh penei �??buscar a face�?� de Deus �?? Os 5:15); sha�??al (�??pedir�?� �?? Sl 105,40); nasa�?? (�??levantar�?� �?? Jr 7,16); paga�?? (�??encontrar�?�, isto é, curvar-se, ganhar o favor �?? Jr 7,16); hithannen (�??implorar�?�, isto é., procurar um favor �?? Dt 3,23); shafakh lev (�??derramar�?� o coração �?? Sl 62,9); e si�??ah (�??queixar-se�?��?? �?? Sl 142,3). Apesar da variedade de tipos, a oração bíblica é essencialmente uma reação humana. Os rabinos descrevem-na como �??o serviço do coração�?� (Taan. 2 a); a expressão tem suas raízes no pensamento bíblico (Os 7,14; Sl 108,2; 111,1). Mas as necessidades do ser humano são tantas e complexas que, inevitavelmente acabam por refletir a enorme variedade de sentimentos humanos: medos, esperanças, desejos e aspirações. No período Patriarcal, uma simples invocação, por exemplo, chamar o nome de Deus (Gn 12,8; 21,33) era suficiente. A aproximação a Deus neste período era marcada pela espontaneidade e familiaridade �?? Deus estava próximo. Para o ser humano, o futuro foi sempre coberto por um mistério, freqüentemente não sabe como agir, mas deseja saber. Por isso pedem um sinal ou oráculo que podia ser dirigido diretamente a Deus (Gn 24,12-14), ou indiretamente através do sacerdote (1Sam 14,36-37) ou profeta (2Re 19,2). Deste estrato surgiram orações magníficas de orientação e discernimento (Nm 6,24-26; 1Re 3,6ss; Sl 119,33). Mas, na emergência o ser humano não quer simplesmente saber o futuro; ele procura tomar uma decisão com a ajuda de Deus. Assim Jacó (fazendo um voto) rezou por necessidades materiais (Gn 28,20ss); Eliezer por sucesso na sua missão (Gn 24,12-14); Abraão pela salvação de Sodoma (Gn 18,23-33); Moisés pela falha de Israel (Ex 32,31-32); Josué pela ajuda divina na hora da derrota (Jos 7,6-9); Ezequias pela libertação das mãos de Senaqueribe (2Re 19,15-19); os profetas em favor do povo (Jr 14,1ss; 15,1ss; Am 7,2ss); Daniel pela restauração de Israel (Dn 9,3-19); Esdras, pelos pecados do seu povo ( Esd 9,6-15) e Neemias pela angustia do seu povo (Ne 1,4-11). A oração de Salomão por ocasião da dedicação do Templo (1Re 8,12-53) abrange quase todos os tipos de oração �?? adoração, ação de graças, pedido e confissão. Também acentua um caráter universal (8,41) repetida freqüentemente pelos profetas. Assim a oração bíblica alcança todos os níveis, desde as necessidades materiais até os anseios espirituais mais elevados (Sl 51,1ss; 119,1ss), transcendendo, como a profecia, os horizontes da história e alcançando o domínio da escatologia (Is 66,22-23). Havia uma relação entre sacrifício e oração (13,4; 26,25), que persistiu até a destruição do Segundo Templo. O sacrifício sugeria uma submissão do ser humana à vontade divina. A oração freqüentemente fornecia um comentário sobre a oferenda. Mas os dois não estão necessariamente ligados. �? digno de nota observar que o regulamento sacrificial não fez preparativos para a liturgia (exceto para o Dia do Perdão, Lv 12,21); mas as oferendas eram verdadeiramente uma forma dramática de oração. Na sinagoga, a oração, acompanhada por leituras e explicações da Escritura, tomava o lugar das oferendas do altar. Exemplos de oração de intercessão já foram citados. O intercessor quer seja profeta, sacerdote, rei ou líder nacional, não faz referência à necessidade de um intermediário no culto: �??O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam na verdade�?� (Sl 145,18). O intercessor é alguém que, pelas suas qualidades naturais, coloca ênfase na súplica. A oração, distinta do sacrifício, podia ser oferecida em qualquer lugar (Gn 24,26; Dn 6,11 no quarto superior; Esd 9,5ss), mas havia uma tendência natural em procurar um lugar sagrado (ex.: Silo ou Gibeon). Finalmente o Templo de Jerusalém se tornou o lugar mais importante de oração (Is 56,7), todos os que não podiam estar lá pessoalmente, ao menos dirigiam o olhar em direção a ele enquanto rezavam (Dn 6,11; cf. Sl 5,8). No futuro o Templo devia ser uma casa de oração para todas as nações (Is 56,7). A sinagoga teve sua origem durante o exílio da Babilônia; originariamente era um lugar de reunião, e se tornou, no seu devido tempo, casa de oração e estudo. A ênfase na oração comunitária começou a crescer, mas a oração pessoal nunca foi abolida. O coração e não a hora ordenava o momento da oração. Dia e noite o Pai Celestial podia ser solicitado. (ex.: 1Sam 15,11; Sl 86,3; 88,1). No entanto, a necessidade de regularidade ocasionou a sincronização dos momentos da oração e do sacrifício: oração da manhã corresponde à oblação da manhã (Sl 5,3), a prece da tarde corresponde ao sacrifício da tarde (1Re 18,36; Esd 9,5). O cair da tarde era uma outra ocasião de louvor, assim a oração é oferecida três vezes ao dia (Sl 55,18; Dn 6,11, embora duas vezes em 1Cro 23,30). As sete vezes mencionadas no Sl 119,164 significa �??muitas vezes�?� ou �??freqüentemente�?�. Na Bíblia não há gestos particulares prescritos em conexão com a oração. Mas algumas posturas se desenvolveram naturalmente para dar ênfase ao conteúdo da oração: de pé, o que é normal (1Sam 1,26; 1Re 8,22); ajoelhado (Dn 6,11; Esd 9,5); prostrado (Jos 7,6); inclinado (Gn 24,26, Nee 8,6); mãos estendidas para cima (1Re 8,22; Sl 28,2); rosto entre os joelhos (1Re 18,42); e mesmo sentado (2Sam 7,18). Os mais importantes acompanhamentos da oração eram o jejum, lamentação e choro (Is 58,2-5; Jl 2,13). Mas o critério último permaneceu o ardor do coração (Jl 2,13). Originalmente a oração era espontânea e pessoal; mas com a necessidade de colocar ordem na religião criou-se modelos litúrgicos e versões musicais Esd 2,65; 1Cro 16). Fórmulas de oração são encontradas já no Pentateuco (Dt 21,7ss; 26,5-15). Os Salmos nos fornecem modelos de desenvolvimento litúrgico completo, incluindo coral e instrumentos característicos. A resposta �??Amém�?� ocorre em Nm 5,22; Sl 41,14 etc.; a doxologia em Ne 9,5.42; uma revisão de como Deus age com seu povo para o conduzir a uma conversão (Ne 9,6-10). A oração é ouvida e atendida pela divindade, esta é uma verdade bíblica aceita (ex.: Gn 19,17-23; Nm 12,9ss.); no entanto, a Escritura mostra também que a oração não é respondida (Gn 18, 17ss.; Is 29,1ss.). O ritual não é suficiente quando a oração é hipócrita (Is 1,15; Am 4,4ss.); e há momentos que a intercessão é proibida (Jr 7,16; 11,14). �? neste ponto que o conceito bíblico de oração é visto na sua verdadeira interioridade. No paganismo o culto era considerado como algo mágico, por meio do qual a divindade era obrigada a cumprir o desejo do sujeito que reza; o elemento moral era completamente ausente. Na fé bíblica a resposta divina é essencialmente ligada a valores espirituais e éticos. O ser humano como é, responde à sua própria oração (Gn 4,7), e a resposta é fundamentalmente uma mudança de espírito e de perspectiva. Abraão aprendeu a lição da fé (Gn 15,1-6); Moisés se tornou o libertador do povo (Ex 3,2 �?? 4,18); Isaias foi transformado em profeta (Is 6,5-8). Oração e profecia eram provavelmente correlacionadas, a primeira foi o solo preparatório na qual a semente da revelação aconteceu (Jr 1,6ss.; Hab 1,13 �?? 2,3). Em muitos casos a oração assume um caráter impetuoso (Jr 12; Sl 22), mas a tempestade sempre termina numa fé renovada e na paz. �?s vezes, no entanto, Deus responde antes de ser chamado (Is 65,24; cf. Dn 9,20ss.), não só o ser humano suplica por Deus, mas também Deus procura o ser humano (Is 50,2; 65,12). Entre o Eu e o Tu há uma relação recíproca.

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