Sandra nos põe uma série de questões relativas ao dízimo, elemento muito importante da vida do cristão. Ela conta que deixou de frequentar a igreja por causa de alguns escândalos também inerentes ao tema do dízimo. Nesse período está em busca de uma igreja da qual participar. Atravessando esse tempo de discernimento, quer saber o que fazer com o dízimo desse período, a quem dá-lo, se esperar a nova comunidade, se Deus faz questão que tê-lo mesmo se ela não frequenta nenhuma comunidade...

São perguntas simples, mas que revelam uma vivência intensa do ser cristão. Já respondemos várias perguntas sobre esse tema.

O dízimo é uma mensagem bíblica muito importante (veja Deuteronômio 26,10; Mateus 23,23). Ele nasce como uma maneira de garantir a integridade e a subsistência do povo de Deus, ajudando àqueles que não ganharam uma terra da qual tirar o próprio sustento e aos mais desfavorecidos, especialmente viúvas, órfãos e estrangeiros.

Na igreja, essa prática tem uma história bastante controvertida. Alguns cristãos se dedicam de maneira radical à sua observância e outras comunidades não contemplam tal prática. Por exemplo, nas comunidades cristãs da Europa, aonde predomina o catolicismo, é algo praticamente inexistente; provavelmente por causa da ajuda que as igrejas recebem do estado. Nas igrejas católicas do Brasil, algumas paróquias criaram o que se chama de “centésimo”, mas em outras nada é feito. Nas igrejas evangélicas, ao contrário, é um tema fundamental. Muitas vezes, porém, essa prática é caracterizada por uma ingenuidade religiosa: muitos pensam que é possível comprar a própria segurança e garantir o favor divino, que seria dado em troca do próprio dom ao pastor. Isso tem raízes profundas, principalmente na Idade Média, quando a igreja incentivou, em momentos particulares, a “compra de um pedacinho do céu”. Mas isso implica uma teologia errada, que pensa que Deus muda conforme a dedicação de cada um. Sabemos bem que Deus nos ama independentemente da nossa reação; seu amor é gratuíto e não quer nada em troca. Aquilo que se faz com o dízimo não é para Deus, mas para nós mesmos, especialmente para a comunidade.

O nosso parâmetro de juízo é a Bíblia. Como dissemos, o dízimo nasceu para garantir a subsistência dos levitas, que não ganharam terra no momento da divisão da Terra Prometida, e também para incentivar a solidariedade com os desfavorecidos. Se quisermos julgar a prática do dízimo nossa e da comunidade à qual pertencemos, deveríamos analisar o que é feito com o dinheiro arrecadado. Coincide com a natureza pensada na Bíblia? Comece analisando se você sabe o que se faz com o dinheiro. Não é algo de que você possa se desinteressar, pois você é comunidade e o dízimo é para a comunidade, que testemunha a presença de Deus no mundo. Seria muito importante uma gestão transparente e que o dinheiro seja usado tanto para a manutenção dos aspectos práticos da vida da comunidade quanto para a caridade para com os mais desfavorecidos.

 

A quem dar o dízimo?

Acho que as igrejas fazem bem em incentivar a participação dos seus fieis na prática do dízimo. Não concordo com a imposição de uma taxa fixa, que sacrifica a vida das pessoas. Cada um deve saber o quanto pode dar, conforme suas necessidades e exigências. O importante é que o fiel tenha a capacidade de reconhecer que aquilo que tem não é seu, mas é um dom que precisa ser partilhado e o dízimo incentiva essa tomada de consciência.

Sou favorável que o cristão participe das despesas que a comunidade tem, como uma manifestação da vida em comum, como viveu a primeira comunidade de Jerusalém. Mas exigiria que tudo tenha uma gestão transparente, feita por uma equipe e mostrada periodicamente a toda assembleia.

O dízimo pode ser público, dado à comunidade, mas também uma atividade privada, feita “em segredo”. Quando dou uma esmola a uma pessoa necessitada, estou fazendo o dízimo, praticando o ensinamento bíblico.

No caso seu, certamente Deus que que pratique a caridade mesmo enquanto não participe concretamente de uma comunidade. Por isso, se quer continuar praticando o dízimo nesse período de discernimento, ajude alguém em necessidade.