Os pré-adamitas não existiram, visto que a história da criação como contada na Bíblia não é um fato histórico, mas uma narração contruída com o objetivo de transmitir uma mensagem: Deus é o autor da criação. Portanto não podemos dizer que existiu um antes-Adão e um depois-Adão e por isso também não podemos dizer �??eu creio em pre-adamitas�?�, assim como também não é correto dizer que �??creio na existência de Adão�?�.
Apesar desta resposta seca, a sua pergunta é sempre uma oportunidade para refletir sobre um tema bíblico e teológico muito interessante e sempre atual.

Até 1800, ninguém colocou, de forma eficiente, em dúvida a historicidade da narração bíblica sobre a criação do mundo, contada no livro do Gênesis. Podemos simplificar e dizer que Charles Darwin, inglês, foi o protagonista de uma revolução que, invés, pôs bases para duvidar da historicidade da Bíblia.
Viajando pelo mundo num navio, entre os anos 1831 e 1835, Darwin elaborou a teoria da evolução. Nas ilhas Galapagos ele observou que o mesmo passarinho tinha um bico diferente, dependendo do lugar onde vivia. Em uma ilha esse pássaro tinha o bico curto e forte, pois o seu principal alimento era a nós, que ele tinha que quebrar com o bico para comê-la. Em outra ilha o mesmo passarinho tinha o bico fino e comprido, pois precisa alimentar-se de alimentos que encontrava nas rachaduras das pedras. A teoria de Darwin foi publicada em um livro de 230 no ano 1858.

As idéias de Darwin inauguraram o caminho para os estudos específicos sobre a origem do homem. Hoje os cientistas estão estudando os geomas do Homo Sapiens e do Homem de Neandertharl e pretendem confrontá-los entre si para estabelecer quais as novidades genéticas que fizeram com que o Homo Sapiens se tornasse o Homem Moderno. Os estudos dizem que a evolução humana começou há 6 milhões de anos e Homem Moderno apareceu por volta de 150 mil anos atrás.

A teoria da evolução é bem fundamentada e aceita com facilidade no mundo científico. E podemos dizer que também o Magistério da Igreja Católica aceita essa teoria. O papa anterior, João Paulo II, por exemplo dizia, em 1985, em um simpósio sobre �??Fé cristã e teoria da evolução�?� que a teoria da evolução e a criação não se excluem e uma não cria obstáculo a outra. Ele puntualiza: �??A evolução supõe a criação, ou melhor, a criação, à luz da evolução, é um fato que se prolunga no tempo, como uma creatio contínua.�?� E também o Catequismo da Igbreja Católica diz que �??a criação não saiu pronta das mãos do criador�?� (n. 302). Deus não criou um mundo não perfeito, mas �??em caminho para a sua perfeição última. Esse futuro do plano de Deus leva ao surgimento de alguns seres e ao desaparecimento de outros�?� (n. 310).

Portanto o processo evolutivo é aceitado. Invés os fatores que levam à evolução e também as modalidades evolutivas ainda não foram definidos de forma unânime e as pesquisas científicas estão abertas. Exatamente aqui cabem duas perguntas: existe a possibilidade de um projeto divino para a criação? O homem representa necessariamente um desenvolvimento natural da natureza? Teologicamente falando é importante afirmar a relação de dependência radical do mundo de Deus, que criou as coisas do nada, mas não nos disse como. Por isso nasce o debate a respeito do projeto divino sobre a criação. Uma das tentativas de explicar a criação aceitando a evolução é o Inteligent Design, que podemos traduzir como �??projeto inteligente�?�. Essa teoria aceita a evolução, porém defende que o processo evolutivo não é casual, invés pilotado por um intervento �??inteligente�?� que tem como objetivo conduzir a evolução dentro de um plano que tem o seu vértice no homem. Essa leitura pode ser apoiada na bíblia, visto que no Gênesis se diz que Deus põe no homem a imagem divina, mas não no animal. O problema do �??projeto inteligente�?� é que pensa de ser uma teoria científica e nisso erra. Está, na verdade, em um plano diverso, teológico. Além do mais essa pseudo ciência não consegue explicar por que em certos casos, tais como os desastres naturais e os �??erros da natureza�?�, esse �??projeto inteligente�?� não é eficaz.

Teologicamente poderíamos pensar que Deus colocou na criação o princípio evolutivo, ou seja, a possibilidade de cada matéria orgânica de evoluir para formas sempre mais complexas e organizadas de vida. Teilhard de Chardin a propósito diz que Deus não faz as coisas, mas faz com que elas sejam feitas. Deus é a causa primeira de cada coisa que opera por meio de outras causas. Obviamente o homem é um aspecto importante do intervento de Deus. Com o homem a evolução faz um salto ontológico. Quando e onde Deus quis surgiu a inteligência no homem. Ele acolheu o espírito conforme a vontade de Deus. De fato a natureza não pode produzir o espírito por conta própria, mas pode receber.

�? uma teoria que não entra na esfera da ciência empírica e por isso não pode ser nunca provada por ela, mas também não pode ser negada.

Concluindo podemos afirmar que a evolução entendida como teoria científica deve ser aceita. �?s vezes porém acontece que tal teoria se torna uma ideologia, negando aspectos igualmente importante da criação. De fato quando os cientistas dizem que a criação de tudo depende do caso e da necessidade não estão sendo cientistas, mas acegados por uma ideologia. Do mesmo modo erram os cristãos quando lêem o texto do Gênesis como a verdade absoluta sobre a criação. O texto bíblico sobre a criação não pretende ser um texto de ciência natural ou de física, que pretende transmitir ao leitor dados informativos de ordem científica. De fato a Bíblia tem por objetivo transmitir um outro tipo de informação, ou seja, que a vida, nas suas diferentes formas e expressões, não é um produto do acaso, mas de uma vontade trascendente que vê, prevê, ordena e endereça através da natureza o seu projeto.

Para ler mais sobre o assunto, leia também a resposta dada por Ombretta a uma outra pergunta