Você menciona a assim chamada "fuga para o Egito", contada somente pelo Evangelho de Mateus, no capítulo 2. A Sagrada Família, para escapar da violência premeditada pelo feroz Herodes, que queria matar o menino, que segundo ele ameaçava o seu reinado, fugiu para o Egito: Maria, José e o menino Jesus, que acabara de nascer. Eles ficaramno Egito até saberem da morte do rei e daqueles que queriam a morte da criança. Cerca de dois anos mais tarde, avisados pelo anjo, voltaram para Israel e foram morar em Nazaré.

Esse episódio, que simbolicamente está em conexão com a passagem dos hebreus pelo Egido, de onde foram libertados por  Moisés, mostra a dinâmica particular da encarnação de Deus. Muitas vezes gostaríamos de ver em Cristo um super heroi, alguém que tivesse um vestido aparentemente humano, mas que no fundo continuasse sendo exclusivamente Deus. Ao invés, Paulo, no bonito hino de Filipenses 2, nos ensina que Jesus "abaixou-se, tornando-se obediente até a morte", isto é, assumiu completamente a condição humana: Cristo foi homem e Deus. Nessa condição, não usou o seu poder para fugir poderosamente das coisas típicas da nossa vida, mas as viveu com os limites próprios da natureza humana. Partilhou em tudo, até na morte, o drama da violência da humanidade e não se livrou dela com uma varinha mágica. É verdade que fez milagres, mas eles, durante o seu ministério, têm unicamente a função de mostrar a glória divina e não aquela de libertar Jesus das insídias típicas da vida humana.

Ao assumir a vida humana, Deus não assimiu o pecado, mas mostrou que ela pode ser dignificada, pode ser elevada à esfera divina, para a qual fomos criados. A vida do cristão não escapa da violência, das coisas más da existência, mas é fundamentada sobre princípios sólidos, que transcedem ao mal e se diregem à Vita Eterna. A confiança em Deus dá forças para seguir adiante, como a confiança de José que ouviu a voz do anjo que lhe falou em sonho da vontade de Herodes em matar a criança. É necessário ouvir a voz de Deus e só ela nos fará superar as dificuldades, nem sempre com uma varinha mágica, mas com muita fé que igualmente faz milagres, mas quem sabe não de maneira espetacular.