Nesses dias, com o crescer dos casos de pessoas atingidas pelo Coronavírus, têm aparecido estranhas hipóteses, que encontram nas redes sociais uma fácil maneira de difusão. Há, por exemplo, quem recorda um romance de Dean Koontz, escrito em 1981, onde se fala de um misterioso vírus chamado Wuhan 400, que se espalharia em 2020. E há também, como fica evidente através da sua pergunta, quem acredite que a propagação desse vírus é um sinal do Apocalipse, uma das catástrofes anunciadas pela Bíblia antes da vinda do Senhor.

Nos momentos em que a humanidade sente a sua fragilidade, crescem os pseudos profetas recordando palavras bíblicas e usando-as para incrementar o pânico nas pessoas e assim tê-las nas próprias mãos oferecendo uma salvação que, ao invés, só pode vir do Senhor. Esses pregadores dizem, de maneira genérica, que se tratam de sinais que indicam a eminente volta de Jesus e exortam seus seguidores a não ter medo, recordando as palavras de Jesus no tão conhecido “Apocalipse de Mateus” (Mateus 24):

Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá fomes e terremotos em vários lugares. Tudo isso será o início das dores.

O Apocalipse, que mais do que um livro é um estilo literário, não tem nada a ver com fim do mundo, mas com “revelação”, no sentido que revela a presença de Deus na história. Deus vem na nossa história, julga o nosso comportamento e o “fim”, como diz Mateus 24,34, acontece em toda geração: “Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam.”

O Apocalipse não é uma ameaça para os cristãos, não é uma narração de terror e nem a previsão do fim do mundo, mas um modo de dar esperança para quem está em dificuldades, revelando a presença divina na história: as adversidades não perduram, não vencem, mas são derrotadas pelo poder do Senhor, que tem a última palavra, e, por isso, é senhor da história.

Portanto, podemos sim ligar o caso de uma epidemia com a mensagem de Cristo, descobrindo na Bíblia a palavra de esperança, que nos ajuda a combater as dificuldades que a humanidade provoca e sofre, que são típicas do nosso quotidiano. Mas é completamente errado ver nelas um instrumento de Deus para nos provocar medo, para fazer com que as pessoas se apeguem, de maneira ingênua, em pregações que assustam e submetem quem tem uma fé infantil, como aquela dos primeiros cristãos de Corinto, como lembrado por Paulo em 1Coríntios.

 

A vinda do Senhor

Deus, sem dúvidas, volta. Vai regressar para o juízo final, que acontece no "fim dos tempos", que não sabemos como será e nem quando. Além disso, Ele volta no nosso dia-a-dia, está presente nas nossas dificuldades para nos erguer, para nos amparar e para dar esperança que nos leva a superar a dificuldade que experimentamos. A vinda do Senhor não é catástrofe, mas é uma vitória. O fim não é fim como entendemos, mas meta, objetivo final, lugara a ser alcançado.

Essa é a visão que a Bíblia tem de "vinda do Senhor", de "fim do mundo". Usa uma linguagem estranha para nós, mas muito simbólico que, infelizmente, pode ser bem entendida somente com um pouco de estudo, com uma compreensão adequada do contexto em que esses textos apocalípticos nasceram.

 

O caso do livro de Koontz

A recordação do romance desse autor se divulgou de maneira impressionante na internet. Mas é preciso ser um pouco crítico e deduzir que se trata somente de uma coincidência e que as características presentes na narração do autor tem pouco a ver com o vírus. A única coincidência é o fato que ambos os vírus nascem na mesma região da China, em Wuhan. Mas, além disso, não há nada mais. De fato, o livro diz que o vírus fora criado em laboratório, coisa não verdadeira para o coronavírus. Diz também que é 100% letal, ao invés a taxa de mortalidade do vírus atual é muito baixa, sendo a maioria das vítimas pessoas já com alguma patologia. O romance diz também que o vírus não sobrevive fora do ambiente humano, mas o coronavírus poderia até mesmo ter vindo dos animais.

E a coisa mais curiosa, que revela a intenção de manipulação das informaçãoes, é o fato que dizem que o autor desse romance teria previsto esse vírus para o ano 2020. Isso não é verdade. De fato, o texto mencionado nas fotos que estão no FaceBook é tirado de um outro romance, de 2009, de um livro de Sylvia Browne chamado “End of Days”. Evidentemente colocam-se juntos duas afirmações e fazem passer por uma profecia, revelando a clara intenção de criar uma montagem que apresenta uma situação falsa.