O propósito do sonho, o salmista reza assim:

"Quando o Senhor fez voltar os exilados de Sião, ficamos como quem sonha: a boca se nos encheu de riso, e a língua de canções..."

Essa experiência do salmista mostra como Deus nos faz sonhar. O sonho, a surpresa que dEle vem nos faz ver a salvação e a novidade que Ele desperta e, enchendo-nos de esperança, nos faz desejar um mundo melhor e agir para torná-lo realidade. O profeta Joel parece referir-se a esta experiência quando anuncia que os velhos terão sonhos e os jovens terão visões (3,1). Profecia que o Apóstolo Pedro vê cumprida no dia de Pentecostes com o dom do Espírito (Atos dos Aopistikis 2,17).

Esse simples parágrafo mostra que o sonho na Bíblia tem um significado importante. 

 

O sonho na Bíblia

A mentalidade antiga considera o sonho um meio de revelação. A Bíblia também dá testemunho desta crença. Deus que ama comunicar sua palavra através dos profetas, não desdenha de se manifestar em sonhos que são formas "simples" de revelação. Mencionamos aqui abaixo alguns exemplos:

  • Deus salva Sara revelando-se em sonho a Abimeleque, a quem Abraão a havia dado (Gênesis 20,3.6).
  • Através dos sonhos, Jacó descobriu a presença de Deus em sua própria vida e sua proteção especial (Gênesis 28,12; 31,10-11).
  • Na história de José, "o sonhador por excelência" (Gênesis 37,19), o termo sonho ocorre mais de vinte vezes. O sonho, quando era jovem, que lhe mostra simbolicamente o seu futuro, desperta a vingança de seus irmãos e o leva para o Egito (Gnênesis 37,36). Sua capacidade de interpretar os sonhos de seus companheiros prisioneiros (Gênesis 40,12ss) e depois do Faraó (41,25) o torna vice-rei do Egito. Assim ele salva sua família da fome e reconcilia seus irmãos ao redor de seu pai.
  • Outro jovem sonhador e intérprete de sonhos é o profeta Daniel. Através deles ele encontra a salvação e interpreta a ação de Deus em sua história (cf. Daniel 2,24; 4,16; 7,1).
  • Gedeão descobre no sonho a clara indicação de Deus para derrotar seus inimigos (cf. Juízes 7,13-15).
  • O rei Salomão no sonho pede a Deus "um coração dócil, para que faça justiça ao seu povo e distinga o bem do mal" (1Reis 3,9).
  • O livro de Ester abre com o sonho premonitório de Mordoqueu e fecha com a decifração deste sonho (Ester 1,10).
  • Judas Macabeus encoraja seus homens a lutar contando-lhes um sonho que prediz a vitória (2Macabeus 15,11).

Embora menos frequente, no Novo Testamento o sonho também aparece como forma de manifestação de Deus. Isso acontece sobretudo no Evangelho de Mateus:

  • Deus revela-se a José sobre a concepção de Jesus, a fuga para o Egito, o retorno do Egito e a escolha de morar em Nazaré na Galiléia (Mateus 1,20.24; 2,12.19.22).
  • O sonho adverte os Magos para não passarem por Herodes (Mt 2,12). A esposa de Pilatos no sonho entende que Jesus é o justo e não um malfeitor e intercede por sua salvação (Mt 27,19).

 

A interpretação dos sonhos

Esse é o foco da sua pergunta. De fato, o sonho requer discernimento. Tanto é verdade que o Antigo Testamento faz uma forte crítica aos falsos profetas que através das intrepretações erradas dos sonhos afastam as pessoas de Deus (Deuteronômio 13,1-5; Jeremias 23,25.28; 29,8). Jeremias diz que os sonhos dos falsos profetas são como palha,enquanto que a palavra de Deus falada pelo verdadeiro profeta é trigo (veja Jeremias 23,28). "Os adivinhos vêem o falso, contam sonhos falsos, dão consolos vãos" (Zacarias 10,2). Segundo Qoelet, os sonhos são coisas vãs e não devem ocupar a mente (5,2.6; veja também Sirácide 34,1-7).

Portanto, o sonho pode ser um canal da revelação divina, mas a sua intepretação pode ter dupla face: ser usada para o bem ou para o mal. Quem interpreta o sonho como meio de revelação deve seguir o exemplo dos verdadeiros profetas: que os sonhos conduzam a Deus.