O texto completo da pergunta reproduzimos em seguida:

Sabemos que Deus fez o homem e a mulher, seres RACIONAIS que possuem consciência de seus atos, e fez antes do homem os animais. Em algumas pesquisas que fiz sobre o reino animal, vi que alguns possuem relações homoafetivas, exemplo dos golfinhos nariz de garrafa machos que geralmente são bissexuais, mas eles passam por períodos exclusivamente homossexuais. As atividades homossexuais destes mamíferos incluem o sexo oral durante o qual um golfinho estimula o outro com seu focinho. Os machos também esfregam o pênis ereto contra o corpo de seu parceiro.  gostaria de saber o porquê dessa relação já que Deus fez o homem e os animais e determinou ao homem que não tivesse relações sexuais com o mesmo sexo. Por que os animais então podem ter uma vida homoafetiva? Não quero causar nenhuma polêmica sobre esse assunto, só gostaria de solucionar uma questão que está me incomodando e que requer conhecimento bíblico, eu particularmente não encontrei nada que pudesse saciar está dúvida.

É muito comum as pessoas que são contrárias ao relacionamento homossexual usarem o argumento da natureza, apoiando-se no princípio teológico antigo que diz que "graça supõe natureza", sublinhando que na natureza esse relacionamento não existe e por isso não pode ser apoiado por Deus. Agora você traz outra perspectiva, dizendo que isso existe. É provável que a argumentação levada a esse nível não nos ajude tanto, pois, como você mencionou em sua colocação, a racionalidade nos distingue do reino animal.

A homossexualidade é um tema muito importante no mundo atual e o cristianismo, inserito no mundo contemporâneo, não pode prescindir de tratá-lo. Existe, sem dúvida um comportamento radical em muitos líderes cristãos que não ajuda muito na reflexão. Sinceramente não tenho respostas e não sei como Jesus se comportaria diante desse tema. Nós normalmente queremos encontrar respostas prontas pra tudo na Bíblia. Mas, graças a Deus, não as encontramos; precisamos discutir e encontrá-las com nossa reflexão, às vezes através de acordos, progredindo no caminho de Deus, iluminados pelo Espírito. Acredito, e tenho certeza que isso coincide com a vontade de Deus, que não podemos condenar ninguém pelo comportamento afetivo; não cabe a nós julgar.

A título de reflexão, em casos morais como este é interessante voltar à igreja das origens. Recordamos, juntos, o caso levantado na igreja nascente, se os pagãos que entravam no cristianismo precisavam ou não seguir as práticas da religião judaica. Em síntese, para ser cristão era necessário seguir os costumes do judaísmo? Esse tema foi discutido pela comunidade no conhecido "Concílio de Jerusalém", descrito em Atos 15. Havia um grupo, representado principalmente por Paulo e Pedro, que achava que todos eram iguais e a ninguém era exigido seguir certas práticas do judaísmo, como a circuncisão, para ser cristão. Outros, representados por Tiago, pensavam que isso era imprescindível para ser cristão. Como conclusão do encontro, temos o texto de Atos 15,28-29, que recolhe a mensagem enviada aos cristãos convertidos do paganismo:

Decidimos, o Espírito Santo e nós, não impor sobre vocês nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: 29 abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das uniões ilegítimas. Vocês farão bem se evitarem essas coisas.

De tudo isso temos consciência, historicamente falando. O curioso é que não nos damos conta que nós somos cristãos vindos do paganismo. E quem respeita hoje em dia as decisões do Concílio de Jerusalém? Aquilo foi uma decisão para uma situação concreta; foi um compromisso ao que chegaram os apóstolos. Mas ficou caduco, não serve mais para nós hoje. Hoje temos outros problemas e também sobre esses problemas deveríamos nos debruçar e não simplesmente fingir que não existem. Talvez a decisão atual em relação à homossexualidade não é mais válida; talvez seja necessário tomar outras decisões, refletir de maneira diferente.

Deveríamos nos perguntar se é mais importante a salvação trazida por cristo ou certa práxis; conta mais a graça de Deus ou nossas obras? Esse, no fundo, é o tema levantado por Paulo quando fala de justificação, mas também o tema que está por traz do Concílio de Jerusalém. Se nosso comportamento vem primeiro do que a salvação de Cristo, então sim é necessário se circuncidar para ser cristão. Invés, se primeiro vem a escolha de Deus em relação a nós, a circuncisão pode ser somente uma coisa secundária, momentanea, não perpétua.

São pistas para reflexão e não é nenhum dogma e também nenhuma resposta fechada.