Texto, inicialmente, elaborado para Apresentação em Exame DE UNIVERSA na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. Em seguida,aprofundado e reelaborado para publicação.

1. �? GUISA DE INTRODU�?�?O: Generalidades sobre a carta aos Filipenses

No Cânon das Sagradas Escrituras a carta aos Filipenses ocupa o quinquagésimo sétimo lugar. No Novo testamento ela é o décimo primeiro livro. Sua importância, contudo, não se dá pela colocação que ocupa nas Páginas Sagradas, mas pelo conteúdo e riqueza que apresenta. Em sua forma canônica - para além das discussões exegéticas - ela é composta por quatro capítulos e cento e onze versículos.
�? consensual que essa pequena carta foi redigida por Paulo3 e foi elaborado num momento da vida do Apóstolo dos Gentios em que ele encontrava-se preso4, portanto ela - juntamente com Efésios, Colossenses (Discute-se a autoria paulina nessas duas Cartas) e Filemom �?? são tidas como Cartas da prisão, do cativeiro.
Para grande maioria dos exegetas essa carta revela um tom afetivo de Paulo, pouco manifesto em todas as outras. Isso se justifica, entre outros fatos, porque ela foi a primeira comunidade Paulina fundada que hoje conhecemos como Europa.5 Depois pelo fato de entre, tantas comunidades que serão fundadas posteriormente, ela é a única que demonstra, gratuitamente, interesse pelo Apóstolo ( cf. Fl 4,10)�?�Por isso ela é a única em relação de �??dar e receber�?�(Fl 4,15).
Grosso modo, a carta aos Filipenses, vista como um todo, além de externar a alegria do autor , apresenta Paulo que busca dissuadir a comunidade em contentas internas(Fl 1,15-17) exortando-os a perfeição progressiva em Cristo(Cf 1, 10-11); Retifica interpretações distorcidas dos fiéis de Filipos gestadas por grupos de �??judaizantes�?� que haviam associado-se à comunidade(Fl 2, 2). Por fim, para agradecer dividendos remetidos pelos fiéis dessa região da Macedônia, quando o Apóstolo dos Gentios precisou (Fl 4, 10. 15.).

2 - PAULO E A COMUNIDADE DE FILIPOS

A ida de Paulo para Filipos deu-se, segundo os Atos do Apóstolos, depois de uma visão de Paulo(At 16, 9-10). Isso aconteceu durante a chamada �??Segunda viagem missionária�?�. Após o desagradável incidente com Barnabé(At 15, 36-37), Paulo partiu de Antioquia para visitar �??os irmãos de todas as cidades onde havia anunciado a palavra do Senhor�?�(cf.At 15, 26). Ele atravessou, junto com Silas(cf.At 15,41), a Síria e a Cilícia �?? atual parte ocidental da Turquia - até Derbe e Lista onde encontraram Timóteo( At 16,1). Em seguida, os três, após tentarem, em vão, adentrar Bitínia (At 16,7), foram para a cidade costeira de Troâde (At 16, 8). Nesse lugar o apóstolo dos Gentios viu �??um macedônio�?�(At 16, 9a) que lhe pedia sua ajuda. Esse fato, Paulo interpretou como um chamado de Deus para �??anunciar-lhes a boa Nova�?�(At 16,10). Assim, de Troâde, por via marítima, Paulo foi Neapólis, atual Kavalla na Grécia, outra cidade portuária e a mais próxima do destino final, Filipos.
Filipos, Atual Filippoi na Grécia, foi o primeiro lugar, do que hoje conhecemos como Europa, em que o Evangelho foi anunciado, o primeiro nicho do �??Cristianismo�?� no universo europeu6. Na época, essa cidade era uma colônia Romana de veteranos das Legiões desse Império.
As raízes históricas dessa cidade, embora ela já fosse habitada, asseguram que em 358 a.C, Felipe II, rei da Macedônia, conquistou-a, fortificou-a e deu-lhe seu nome7. Posteriormente, Filipos foi conquistada pelo Imperador Romano, Marco Antônio, tornando-se parte do Império. Por ela passava a maior rota de acesso do Império ao Oriente, a Via Ignátia8 o que fazia dessa cidade a um ponto de estratégico de parada para os viajastes. Em 31 a.C Otaviano, combateu e venceu Marco Antônio de quem tomou muitas de suas colônias, inclusive Filipos. Após a batalha, essa cidade, segundo O�??conor, teve seu nome alterado para Colônia Iulia augusta phillip(i)ensis e passou a gozar de privilégio políticos, dentre eles, o Ius italicum9. Entre outras coisas, esse direito Romano conferia a liberdade de compra e venda; a isenção de impostos provinciais e individuais e a proteção do Império Romano.
Na época em que Paulo por essa região passou e mais tarde enviou uma ( ou três) carta, sua população era formada em grande parte por Romanos, tinha também, entre outros, alguns poucos Judeus, Siríacos e Gregos. O livro de Atos diz que em meio a essa população, Paulo procurou o �??lugar de oração próximo�?� próximo ao rio( Cf.At 16,13), onde a comerciante de púrpura, temente a Deus, chamada Lídia, aderiu à sua pregação e hospedou-os em sua casa(At 16, 14-15). A estada nessa comunidade, segundo relata o mesmo livro, não durou muito tempo, pois Paulo e seus colaboradores, Timóteo e Silas, foram vítimas de calúnias e injúrias que resultaram na sua prisão(At 16, 24) e milagrosa libertação(At 16, 25-38). �? prisão, Paulo faz alusão na carta aos Tessalonicenses(1Ts 2,2) e, segundo Barbaglio10, na própria carta dirigida aos filipenses (Fl 1, 29-30)
A essa plural cidade do Império Romano, Paulo dirige-se para anunciar a Boa Nova (cf.At 16,10) aproximadamente entre os anos de 48 e 50 d.C. As razões que lhe levaram a ir a essa cidade e ignorar outras pelo caminho �?? Neápolis, por exemplo �?? são desconhecidas. Quase nenhum pesquisador bíblico arisca-se a afirmar uma razão plausível para que esse ato, exceto Hawthone11, em Dicionário de Paulo, que afirma que era por causa da importância Política de Filipos �?? era Colônia Romana. A essa mesma comunidade, tempos depois, volvido de uma alegria incomum nos texto paulinos, o Apóstolo dos Gentios vai dirigir uma (ou três) carta, talvez, entre os anos de 57 e 59 d.C.

3 - �??A CARTA�?� E �??AS CARTAS�?� AOS FILIPENSES

Como fora afirmado acima, no cânon da Sagrada Escritura, só encontramos uma única carta dirigida a comunidade de Filipos. No entanto, não é necessário muito esforço em sua leitura para percebermos abruptas mudanças no conteúdo do texto12. Desde o início do Estudo crítico do Novo Testamento essa aporia em torno da unidade da carta a Filipenses é expressa por estudiosos. Nesse sentido, há quem afirme13a existência de duas ou três cartas e quem assegure, não obstante os questionamentos, a unidade da Carta14. Neste emblemático caso de argumentos em favor ou contra a unidade da carta, optamos pelo primeiro grupo, isto é, aqueles que acreditam na divisão do texto em pequenas unidades, pequenas outras cartas.
Desse modo, teríamos três cartas que a tradição exegética costumou chamar de Carta �??A�?�, �??B�?� e �??C�?�. A primeira, Carta �??A�?�, compreende os versículos de dez a vinte do capítulo quatro do texto canônico (Fl 4, 10-20). Ela freqüentemente é chamada de bilhete de Agradecimento. A chamada Carta �??B�?� é composta pelo capítulo um ao três um, depois pelo capítulo quatro versículo dois a nove e vinte a vinte três(Fl 1,1-3,1 + 4,2-9. 21-23). Esta carta é chamada Exortação à unidade e de notícias pessoais. Por fim, a Carta �??C�?�, que é formada pelo capítulo três versículo dois até o capítulo quatro versículo um (Fl 3, 2 �?? 4,1), chamada de Carta de Advertência. Deste ponto adentraremos com maiores minúcias em cada uma dessa três cartas.

* CARTA �??A�?�: Fl 4, 10-20

A Carta �??A�?�, usualmente chamada Carta de Agradecimento,possui dez versículos. Trata-se de um texto pequeno, um bilhete. Segundo Barbaglio, no processo redacional �?? visto que ela é entendida como um texto autônomo �?? deve-se ter perdido o �?? exórdio e a conclusão, conservando apenas o corpo epistolar�?�15. Ela ocupa os capítulos finais da carta canônica. Não obstante essa posição, dizem os estudiosos16, ela foi a primeira a ser remetida por Paulo a comunidade.
Paulo, como o próprio texto da carta sugere, escreve para agradecer a comunidade. Trata-se uma gratidão pelo interesse da comunidade pelo Apóstolo(Fl 4,10). Tal interesse reside numa provável contribuição que a comunidade tenha oferecido a Paulo(Fl 4, 18). Deve-se mencionar que Paulo, como suas próprias cartas denunciam, nunca havia aceitado óbolo algum por seus serviços (1Cor 9, 1. 15; 2Cor 11, 10). Desta vez, no entanto, com gratidão, ele acolhe a oferta. A resposta para essa mudança de comportamento, dizem alguns exegetas17, era pela relação de ternura e carinho que Paulo nutria pela comunidade bem como pela comunhão e mútua responsabilidade que ambos tinham pelo anúncio do Evangelho (cf. 1, 7; 4,3).
Não obstante ter aceitado a oferta dos filipenses, Paulo faz questão de deixar claro que ela não é imprescindível(Fl 4, 11-12.17). O Apostolo busca, acima de qualquer coisa, o bem da comunidade (Fl 4, 17). Sua alegria pelos dividendos ofertados é, portanto, em decorrência da solidariedade que os filipenses mostraram com Paulo. Não uma solidariedade qualquer, mas uma que tem com verdadeiro e maior artífice �??Deus nosso Pai�?�, tal qual o apóstolo apresenta em linguagem litúrgica nos versos finais da Carta(Fl 4,19-20).

    • CARTA �??B�?�: Fl 1,1-3,1 + 4,2-9. 21-23

A segunda Carta aos Filipenses, chamada de �??Carta B�?� é, como já afirmamos, marcadamente confessional(Fl 1,12-26; Fl2 19-30) e, ao mesmo tempo, uma exortação paulina à unidade da comunidade, uma, assim chamada, exortação parenética ( Fl 1, 27 �?? 2,18. 3, 1 + 4,2-9) . Nessa carta, como diz O�??conor �??ouve-se as batidas do coração de Paulo�?�18 tal é relação de afeto, ternura e confiança que o autor deixa transparecer para os seus interlocutores. Os problemas a que ele se refere são insignificantes, típicos de qualquer comunidade que, embora, mereçam uma correção, não lhe desabonam .
Após a tradicional saudação e hino de ação de graças (Fl 1, 1-11), típicas das cartas paulinas19, o Autor inicia uma série de notas pessoais informando sua situação aos Filipenses. Ele abre sua alma e seu coração aos seus diletos irmãos em Cristo(cf.Fl 1,12). Ele informa �??aos irmãos�?� que está preso, todavia sua preocupação maior, diante disso, é o bem do evangelho e os benefícios que tal ato traz para o �??progresso�?� desse mesmo evangelho e da comunidade(Fl 1,12-14). Sua prisão, ao que tudo indica, tornou-se um valioso instrumento de propaganda da mensagem de Cristo(Fl 1,14)
Relativo às preocupações futuras �?? morrer ou viver �?? visto que ele está enfrentando um processo, Paulo estipula para si e revela aos seus um novo significado dessas realidades, frutos da sua fé. Para ele viver ou morrer são realidade de comunhão com Cristo (Fl 1, 20ss). No entanto, ele deseja continuar vivendo para o bem da comunidade �??em Cristo Jesus�?�( Fl 1,27).
Deste ponto em diante na carta(Fl 1, 27-2,18) Paulo segue uma exortação parenética, isto é, convida sua comunidade à unidade em vista dos conflitos internos que estão sendo gestados entre eles.Barbaglio20 distingue neste ponto quatro unidades literárias: A primeira fala da fidelidade ao Evangelho; A segunda da Comunhão eclesial; A terceira de uma espécie de imitatio Christie; e a Quarta, recomendações gerais.
A primeira(Fl 1, 27-30) foca a questão da fidelidade ao Evangelho em meio às perseguições. Paulo insiste para que a comunidade de Filipos seja fiel ao Evangelho, tanto em seus sentimentos como em suas ações(Fl 1, 27). Supõe-se que a comunidade estava sendo vítima de algum tipo de perseguição(Fl 1,28).Nesse sentido Diz o Apóstolo:

�??Somente vivei vida, digna do evangelho de Cristo, [...] permaneceis firmes num só espírito, [...] pela fé do evangelho; e que em nada vos deixais atemorizar pelos adversários, [..]( cf. Fl 1, 27-28)�?�

Um convite à união, enquanto comunidade marca o que o teórico que seguimos chama de segunda unidade literária (2, 1-4). Nesta pequena fração do texto Paulo alude aos destinatários do texto a necessidade de Comunhão(Fl 2,4) e a necessidade de fazer todas as coisas por gratuidade e não por vanglória ou competição(Fl 2,3). Trata-se, talvez, de uma competição interna entre os membros da própria comunidade(Ler Fl 4,2)
A quarta unidade(Fl 2,6-11) é marcada pelo profundamente discutido hino Cristológico. Um convite de Paulo para que a comunidade adquira os mesmos sentimentos de Cristo(Fl 2, 4).Cristo que existindo em condição divina (Fl 2, 6) esvaziou-se (= kenósis) profundamente até a morte de Cruz(Fl 2, 7-8) da qual Deus lhe exaltou( Fl 2, 9-11). Assim deve ser a vida da comunidade.Grosso modo essa é raiz temática do texto - contudo adentraremos numa análise mais delicada deste texto abaixo.
A última unidade Paulo faz um série de exortações Gerais(Fl 2, 12-18). Exorta os filipenses aderirem à obediência do Evangelho(cf.Fl 2, 12); De igual modo, pede o Apóstolo para que a comunidade evite contendas, discussões em sua vida religiosa(Fl 2,15 ) e que sua conduta e prática religiosa seja irrepreensível, conseqüentemente luz para o mundo(Fl 2, 15-16).
Após notas particulares sobre sua vida e de uma série de Exortações, Paulo comunica à comunidade algumas decisões que são pertinentes. Primeiro que Timóteo Poderá visitá-los(Fl 2, 19) com o fim de ajudá-lo; Segundo que o próprio Paulo anseia por ver a comunidade; por fim, que Epafrodito, que fora enviado para cuidar dele na prisão(Fl 2,25) e com ele alguma oferta financeira(Fl 4, 18).
Assim, chega-se aos versículos finais da Carta �??B�?� dirigida aos Filipenses(Fl 4, 2-9.21-23). A inclusão desses versículos nesta carta nem sempre é tão aceita pelos estudiosos21, mas há outros que aceitam validamente por ela ligar-se em muitos aspectos com o inicio da carta �??B�?�22. Argumenta Murphy O�??conor que a expressão �?? nada fazendo por competição, e vanglória, mas com humildade..�?�(Fl 2,3) , está em relação ao conflito entre Evódia e Santique(Fl 4,2). Num plano geral, este trecho associa-se bem à parte parenética da Carta. Paulo exorta os membros das comunidades a Alegria(Fl 4,4) e o exercício de virtudes evangélicas(cf. Fl 4,8). Por fim, a conclusão, típica das cartas de Paulo nos versículos vinte e um a vinte e três.
Dado as considerações acima, uma breve digressão no curso de nosso estudo, faz-se necessário para uma reflexão sobre o texto que ficou conhecido com hino Cristológico.

3.2.1 Hino Cristológico: 2 , 6-11

Exatos cinco versículos presentes na chamada �??Carta B�?� dirigida aos filipenses são merecedores de uma análise mais acurada. Não tanto por sua localização no corpo do texto quanto por sua densidade teológica e pelas inúmeras reflexões e interpretações que já recebeu.
No universo da carta o hino destaca-se: Poético, rítmico, teológico e místico. Impossível não notá-lo. Sua localização no texto, evidentemente, busca sustentar a exortação paranética paulina. A forma e a estrutura, no entanto, não o deixam passar desapercebido.
Sabe-se hoje que esse arranjo poético não é uma construção paulina23. Certamente é um escrito remoto, elaborado por um fiel de uma de suas comunidades e respaldo, possivelmente pela pregação de Paulo. O nosso apóstolo, no entanto deu-lhe o acento que, aos seus olhos, precisaria ser evidenciado sobre o cristo.
No plano estrutural, recaem, ainda, sobre este hino pertinentes questionamentos sobre sua divisão. Para sua análise, há exegetas que optam por dividi-lo em seis estrofes de três linhas; outros que preferem um esquema de três estrofes de quatro linhas. Nesse imbróglio todo, optamos pela divisão proposta por O�??conor que propõe um arranjo de três estrofes �??que mais respeita os elementos formais do texto�?�24
Sucintamente o texto apresenta, numa primeira parte, Cristo que em condição divina não serviu-se dessa categoria(vv.6). Antes tomou uma forma humana, sendo como homem(vv.7). Ele humilhou-se e por obediência a Deus foi morto na cruz (vv.8) Sua atitude, no entanto, não foi em vão. Deus o exaltou. Em resposta a sua fidelidade obediente, ele foi exaltado (vv.9) e todos, deste ponto, proclamam e reverenciam seu nome(vv.9) para glória de Deus(vv10).
A partir dessa localização temática do texto percebe-se as diversas implicações cristológicas25 desse escrito: A iniciar pela a alusão à forma divina de Cristo (vv6) perpassando pela morte de Cruz(vv. 8) e finalizando com exaltação do seu nome(vv. 10-11). Para a grande maioria dos exegetas, Paulo está aludindo a uma cristologia adâmica. Cristo é o justo por excelência, a imagem não deformada, pura da humanidade, por oposição à imagem que se deformou em adão. Essa condição de incorruptibilidade em Cristo dava-lhe o direito viver somente como Deus, no entanto, ele não o faz. Desprende-se de sua condição, despoja-se de seu estado e faz-se humano(vv.7), adentra na realidade humana, assumindo as características da realidade existencial inaugurada por adão �?? exceto o pecado. Ele torna-se sujeito, embora seja livre, das intempéries da vida: sofrimento, dor e morte(vv. 8).
Embora humano, Cristo não tinha necessidade reconciliar-se com Deus.No entanto, por livre opção, fez-se oferenda agradável a Deus para restituir a dignidade humana. Por isso, sujeitou-se à morte de Cruz (vv.8). Em resposta a essa fidelidade �??Deus o exaltou acima de todos os justos aos quais foi prometido um reino, e lhe transferiu o título de autoridade que antes fora só de Deus�?�26.
Grosso modo e em linhas gerais, não obstante as dúvidas que repousam sobre a autoria paulina do hino, o fato de Paulo ter assumido esse hino e posto em sua carta revela a sua concepção cristologica de inclinado acento adâmico e de influência sapiencial27. Essa teologia Paulo desenvolverá em outras cartas também( por exemplo 1Cor 15 e Rm 5,12-21). Ela acena, sucintamente, para a condição humana(realidade adâmica = pecado) que recupera seu pleno sentido em Cristo(Imagem incorruptível.)
No contexto geral da carta �??B�?� o texto quer significar, visto que faz parte da paranese paulina, um convite a imitar o comportamento de Cristo, consequentemente viver uma vida autenticamente humana.

    • CARTA �??C�?�: Fl 3, 2 �?? 4,1

A chamada carta �??C�?� possui exatos 21 versículos. Certamente trata-se de um carta escrita pós-prisão. Costumou-se chamá-la de Carta de Advertência Ela sucintamente quer alertar a comunidade de filipos, entre outras coisas para os perigos doutrinais difundidos ou por Judaizantes ou por Judeu-cristãos anti-paulinos (cf. Fl 3, 2ss). Grosso modo, podemos dizer que a carta tem quatro focos: Primeiro advertir contra os judaizantes(Fl 3, 1-3); Segundo ilustrar os perigos que esse grupo pode gerar a partir de traços autobiográficos de Paulo(Fl 3, 4-14);Terceiro um convite a imitação do Apóstolo que segue somente a Cristo(Fl 3,15-21) por fim, um chamado á fidelidade(Fl 4, 1).
Nessa carta, assim com �??A�?� - diferentemente da �??B�?� - não encontramos nem um exórdio tampouco uma conclusão. Deve-se dizer que o escriba quando coligia o texto certamente deve tê-los excluídos para dar ao texto uma forma epistolar única.
Nos versos iniciais, Paulo difere uma série de criticas aos adversários com o fim de alertar os filipenses. Ele os chama seus inimigos de �?? cães�?�, �??maus operários�?� e �??falsos circuncidados�?�. Trata-se de uma forte advertência que abre viés para uma poderosa polêmica. Paulo chama os judeu-cristãos de cães. Trata-se de um título usado pelos próprios judeus para desprezar aos pagãos. O Apóstolo, também, chama-os de maus operários, relativizando o valor do anúncio que eles fazem, por fim, desqualifica a circuncisão da carne, recomendando um novo tipo de circuncisão feita no Espírito e não mais na carne(Fl 3,3).
Para legitimar todo seu argumento contra os �??judaizantes�?�, Paulo alega que ele próprio, em seu anúncio, poderia �?? confiar na carne�?� (Fl 3,4), pois gozava de títulos e privilégios religiosos(Fl 3,4-6). Paulo não o fez. Com isso ele denúncia a irreconciliável oposição entre o cumprimento esquizofrênico da lei e a fé no Cristo, o �??conhecimento de Cristo�?�(Fl 3, 7-8), talvez uma reconciliação apresentada como possível28 pelos �??adversários�?� de Paulo que estavam em Filipos. Para o Apóstolo, portanto, a nosso ver, Cristo é toda lei. Excludente, assim, uma aliança entre cumprimento da lei/circuncisão e fé em Cristo29.
Deste ponto, dessa oposição apresentada no texto, Paulo exorta a comunidade a ser seguidora dele, que segue a Cristo(Fl 3,17). Ao mesmo tempo ele convida-os a desacreditar no que anunciam os �?? adversários�?� paulinos, pois eles são �?? inimigos da Cruz�?�. Certamente negam o valor salvífico da Cruz de Cristo. Seu deus é o ventre. Devem aferrar-se a normas dietéticas (cf.Fl 3,18-19). Por fim, Paulo encerra a carta, certamente com o o coração condoído, exortando sua comunidade amada a permanecer firme no Senhor(Fl 4,1.)

4 - CONCLUS�?O

Ao cruzarmos o limiar que julgamos final(o que não esgota) de nossa pesquisa sobre a carta aos Filipense, podemos elencar alguns dados conclusivos sobre o referido texto em forma de pontos enumerados:

  • A carta aos Filipenses, conforme tentamos apresentar, é um opúsculo singular na literatura paulina. Ela, congrega, em seu conteúdo, uma ternura singular do Apóstolo dos Gentios; Uma reflexão clara e objetiva sobre os atributos de Cristo(Cristologia); Por fim, exortações paranéticas decorrentes, como não podia ser diferente, da reflexão Cristológica cunhada em todo texto por Paulo.
  • O referido libelo paulino, como apontamos, na pesquisa bíblica recente é interpretada com uma tríplice carta. Com raríssimas exceções, os estudiosos bíblicos asseguram uma estrutura tripartite para o escrito Paulino. A primeira Carta é uma escrito de gratidão; A segunda, uma de assuntos que oscilam entre notas pessoais e exortações paranéticas; Uma forte advertência aos Cristãos é o conteúdo da terceira carta.
  • No segundo �??bilhete�?� escrito por Paulo encontramos uma pedra de Jaspe da literatura paulina. Trata-se do hino, conhecido atualmente pelos, teólogos com Kenótico. Certamente, como acenamos, não é um escrito de Paulo, mas uma produção de alguma comunidade Cristã utilizada por Paulo para apresentar sua Cristologia adâmica sapiencial, onde a humanidade recupera sua imagem verdadeira, deformada em adão e reconciliada em Cristo.
  • Grosso modo, podemos concluir nossa reflexão assegurando que a Carta de Paulo aos Filipenses é um texto rico. Em nível de pesquisa, ao menos ao que se tem acesso, percebemos que não há um evolução, ou melhor, não inovações nas pesquisas sobre esse texto. Nesse sentido, muitas vezes, esta pesquisa parecia um conglomerado de informações sem, contudo, apresentar singularidades exegéticas/ hermenêuticas.

REFER�?NCIAS

 

Bíblia de Jerusalém.São Paulo: Paulus.2004

Biblia TEB.São Paulo: Paulinas / Loyola. 1996

CELSO, Pedro. Entrevista sobre o Ano Paulino. REVISTA ANAIS Jun/2008. n. 06. São Paulo.p16-18.
DALTER, Frederico. Eu, Paulo: Vida e doutrina de São Paulo. 2.ed. Petropolis: Vozes. 1978.
FERREIRA, Reuberson. Paulo, um perfil Biográfico. São Paulo. 2008. Disponível em: www.abiblia.org/artigosview.asp?id=109

HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G(org.) Carta aos Filipenses. Dicionário de Paulo. Sâo Paulo: Loyola/ Paulus/Vida Nova. 2008.

LOPES, Hernandes Dias.Filipenses: A alegria triunfante no meio das provas / São Paulo: Hagnos, 2007.

NEGRO, Mauro. A carta de Paulo aos Filipenses. Jornal Santa Edwiges. Ano XIX. nº 228. São Paulo.

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SUMPTIBUS PONTIFICI INSTITUTI BIBLICI. Novum testamenum. Gregai et latine. 4 ed. Roma: s/e .1942

TRIMAILLE, M. A Carta a Tiago.In: CARREZ, M. (et. al)As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas São Paulo: Paulus.1987.

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2 Texto, inicialmente, elaborado para Apresentação em Exame DE UNIVERSA na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. Em seguida,aprofundado e reelaborado para publicação.

3 Pe.Reuberson Ferreira,mSC é Bacharel em Filosofia pelo Instituto de Estudos Superiores do Maranhão(São Luís �?? MA, 2002-204). Graduando em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção(São Paulo,2005-2009). Pós-graduando em Cultura Judaica pelo Centro Cristão de Estudos Judaicos de Nossa Senhora de Sion �?? Religiosos de Sion (São Paulo- SP). Foi redator da Revista Católica Anais de Nossa Senhora do Sagrado Coração(2006-2009) e Editor do Site www.msc.com.br(2007-2009). Atualmente é Missionário nas Terras indígenas do Alto Rio Negro, na diocese de S. Gabriel da Cachoeira �?? AMAZONAS - BRASIL

3 Cf.DALTER, Frederico. Eu, Paulo: Vida e doutrina de São Paulo. 2.ed. Petropolis: Vozes. 1978. P. 21; Cf.CELSO, Pedro. Entrevista sobre o Ano Paulino.REVISTA ANAIS Jun/2008. n. 06. São Paulo.p16-18

4 Crer-se que, ao menos em parte dela, ele, talvez, estivesse preso. Esse fato porque em sua divisão, a partir da critica textual, - Carta �??A�?� ; �??B�?� e �??C�?� - a chamada �??carta B�?� reflete aspectos de uma possível prisão, como mostraremos a seguir.

5 Cf. O�??CONOR,Jerome Murphy. Paulo: Biografia Crítica. São Paulo:Edições Loyola. 200. p.219

6 Cf. O�??CONOR,Jerome Murphy. Paulo: Biografia Crítica. São Paulo:Edições Loyola. 200. p.219; HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G(org.) Carta aos Filipenses. Dicionário de Paulo. Sâo Paulo: Loyola/ Paulus/Vida Nova. 2008.p.557

7 O�??conor citando Gueras Civil de Apíão diz que o nome de Filipos antes de ser conquistada pelo Rei da Macedônia era Dautus e Crenides: Cf. O�??CONOR,Jerome Murphy. Opus cit.. p.219; LOPES, Hernandes Dias.Filipenses: a alegria triunfante no meio das provas / São Paulo: Hagnos, 2007.p.14: Este autor apresenta o mesmo nome citado por O�??conor só que com outra grafia : Krenides, fontes

8 Cf. O�??CONOR,Jerome Murphy. Paulo: Biografia Crítica. São Paulo:Edições Loyola. 200. p.220; HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G(org.) Carta aos Filipenses. Dicionário de Paulo. Sâo Paulo: Loyola/ Paulus/Vida Nova. 2008.p.557

9 Cf. LOPES, Hernandes Dias.Filipenses: a alegria triunfante no meio das provas / São Paulo: Hagnos, 2007.p.15; O�??CONOR,Jerome Murphy. Op. Cit. 200. p.220; HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G(org.) Op. Cit.p.557

10 Cf. BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo(II). São Paulo: Loyola.1991. p.353

11 HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G(org.) Op. Cit.p.557

12 Observar: Fl 3, 1 e 3,2; 4, 1 e 4, 2; 4, 9 e 4,10; Esta apresentação de rupturas é ratificada na literatura de: TRIMAILLE, M. A Carta a Tiago.In: CARREZ, M. (et. al)As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas São Paulo: Paulus.1987. p.191-194; bem como em : NEGRO, Mauro. A carta de Paulo aos Filipenses. Jornal Santa Edwiges. Ano XIX. nº 228. São Paulo. p. 8-9

13 cf.O�??CONOR, Jerome Murphy. Paulo: Biografia Crítica. São Paulo:Edições Loyola. 200. p.224; cf.TRIMAILLE, M. A Carta a Tiago.In: CARREZ, M. (et. al)As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas São Paulo: Paulus.1987. p.194; cf.BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo(II). São Paulo: Loyola.1991. p.357

14 HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G(org.) Op. Cit.p.559

15 cf.BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.408

16 cf.O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.224

17 cf.BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.409; cf. O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.224

18 .O�??CONOR, Jerome Murphy. Philippiens. In: DBS, VII. Paris. Apud. BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.360

19 Sobre a Estrutura das Cartas Paulinas, Ver: HAWTHONE, Gerald F., MARTIN, Ralph P., REID, Daniel G (org.) Cartas, Formas Epistolares. Dicionário de Paulo. São Paulo: Loyola/ Paulus /Vida Nova. 2008.p.193;

20 cf.BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.371

21 BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.387

22 O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.231

23 Cf.BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.377;O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.234; CARREZ, Maurice. (et. al)Op.cit. São Paulo: Paulus.1987. p.203

24 O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.232:

I v.6a Ele, que é de condição divina
v.6b Não considerou como pressa a agarrar o ser igual a Deus
v.7a Mas despojou-se
v.7b Tomando a condição de servo

II v. 7c. tornando-se semelhante aos homens,
v.7d. em seu aspecto, reconhecido como homem
v. 8a ele se rebaixou,
v. 8b tornando-se obediente até a morte [ morte de cruz] *

III v.9a foi por isso que Deus o exaltou soberanamente
v. 9b e lhe conferiu um nome que esta acima de todo nome,
v.10a a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre [v.10b nos céus na terra e debaixo da terra] *
v.10b e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor [para Glória de Deus Pai] *

*Texto em negrito e itálico são considerados acréscimos posteriores de Paulo ao escrito.

25 Para um estudo rápido e esclarecedor da Cristologia paulina, consultar: SKAR, Michel. Cristo nas Cartas Paulinas. Revista de Cultura Teológica. nº 67. Abr/ Jun. São Paulo: Paulinas. 2009. p.105-115

26 O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.234

27 Cf. CARREZ, Maurice. (et. al)Op.cit. São Paulo: Paulus.1987. p.204;BARBAGLIO, Giuseppe. Op.cit..1991. p.378;O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.234;

28 O�??CONOR, Jerome Murphy. Op. Cit.. p.236: �?? Para eles Cristo simplesmente inaugura o tempo escatológico; A salvação ainda estava condicionada á observância da lei.

29 Com esta interpretação não quero aludir que Paulo tenha ojeriza à lei ou que seja anti-semita como muito se difundiu nos meios acadêmicos. Antes sigo aquilo que Sanders ensina no seu livro Paulo, a lei e o povo Judeu, que para cada contexto e para cada comunidade(dependendo da questão) Paulo tem uma visão local e localizada sobre a lei. Conferir: SANDERS, Ed Paul. Paulo, a lei e o Povo Judeu. São Paulo: Academia Cristã/ Paulus. p.17.