A história de Geazi (em hebraico Gehazi; Bíblia de Jerusalém Giezi) aparece junto com a história do milagre de Eliseu, que cura Naamã da lepra. Geazi, servo de Eliseu, 'rouba' o presente que o chefe do exército do rei de Aram queria dar ao profeta pelo seu milagre. O castigo de Geazi é sofrer a lepra e deixa a presença de Eliveu, 'branco como a neve, por causa da lepra' (2Reis 5,20-27).

Lucas (e somente ele!) conta o milagre de Jesus, que cura os 10 leprosos (Lucas 17,11-19). Tendo sido curados enquanto íam se apresentar ao sacerdote, apenas um entre eles voltou para agradecer a Jesus. Esse que reconheceu a graça recebida através de Jesus era samaritano, um estrangeiro, alguém de quem não se esperava um tal comportamento. Esse é o cerne da mensagem de Lucas: as pessoas mais próximas nem sempre reconhecem a graça recebida, invés a mensagem de Cristo chega também a quem está 'longe'.

É também Lucas que coloca na boca de Jesus uma recordação do milagre que Eliseu fez ao sírio Naamã. Essa menção aparece no discurso de Jesus na sinagoga de Nazaré, em Lucas 4. Jesus não é aceito pelos habitantes de sua cidade e diz que "nenhum profeta é bem recebido em sua pátria" (Lucas 4,24). É então que cita como Eliseu não ajudou as viúvas de Israel, mas uma que era de Sarepta, na Sidônia, como Eliseu não curou os leprosos de Israel, mas um da Síria...

Na Bíblia não existe relação literal da cura dos 10 leprosos e o servo de Eliseu. Particularmente acho bastante forçada a eventual interpretação feita pelo pregador que você menciona. Todavia, é importante sublinhar que faz parte da tradição rabínica interpretar de maneira muito interligada as passagens bíblicas e, lendo os textos rabínicos, às vezes, nos impressiona as ideias que transmitem, a criatividade que têm na interpretação das escrituras. É claro que precisa considerar a interpretação no seu todo e não conhecendo os argumentos e a linha de pensamento usada pela pessoa que você cita, não é fácil julgar o seu pensamento.