Hoje, domingo 14 de agosto, a liturgia católica propôs essa passagem de Lucas 12,49. Muitos pregadores falaram de outros temas, como a vocação, por exemplo. De fato, não é fácil explicar esse texto. Principalmente se lemos a sequência:

Pensais que vim para estabelecer a paz sobre a terra? Não, eu vos digo, mas a divisão (Lucas 12,51).

Visto que Jesus fala sempre de paz (Mateus 5,9; Marcos 9,50; Lcucas1,79; 10,5; 19,38; 24,36; João 4,27; 16,33; 20,21.26), como entender essa sua afirmação?

 

Tentativas de explicação

Uma primeira leitura tende a ver o sentido simbólico do fogo, ligando-o ao Espírito Santo ou também ao fogo que purifica e abrasa os corações, acendido graças à cruz de Cristo. De fato, o versículo 50 dá margens para essa interpretação:

“devo receber um batismo, e como me angustio até que esteja consumado!”

Cristo está falando do batismo na cruz, do batismo com o sangue da paixão (veja Lucas 3,16: Jesus batiza com o fogo).

Todavia, por que Lucas fala logo em seguida da divisão que traz Cristo? Ele queria a violência e a divisão?

Parece evidente, lembrando os versículos citados acima, que não. Todavia, lendo o evangelho, que apresenta Jesus como Messias, vemos como na verdade as pessoas que conviveram com ele se dividiam: na mesma família ou comunidade, alguns estavam com Jesus e outros eram contrários aquilo que ele dizia. Por isso a Boa Nova de Cristo era de fato uma fonte de divisão, um “sinal de contradição” (Lucas 2,34). Os judeus do tempo de Cristo, principalmente do tempo em que Lucas escreveu, se dividiam, alguns aceitavam Jesus como o Messias e o outros o negavam.

A divisão que Cristo traz não é um ideal, mas uma consequência da dureza do coração humano que não sabe ler os sinais dos tempos, que não sabe julgar o que é justo. Cristo quer a união, quer que todos sigam seu caminho, abrace o seu ideal de fraternidade, de vida. Mas isso não acontece. E a sua proposta provoca discórdia. Lucas esclarece essa situação humana e comunitária. Aconteceu no tempo de Cristo e acontece ainda hoje, em nossas comunidades. Muitos aceitam Jesus em suas vidas, mas qual conceito temos dele? Não é verdade que muitas vezes nos dividimos a respeito da estrada que queremos trilhar, como comunidade? Não é verdade que no mundo, há quem promove a solidariedade e outros que só pensam no ganho, no dinheiro? E isso não é motivo de divisão?