Jeremias é o profeta que nos deixou o maior número de informações biográficas. Elas se encontram disseminadas por seu livro, especialmente nesses versículos: 19,1-20; 26; 28 - 29; 34,8-22; 36; 37 - 44; 45; 51,59-64. As "Lamentações", escritas pelo profeta, também são de suma importância para entender as crises interiores pelas quais ele passou. Esse livro, nas nossas bíblias (como na LXX e na Vulgata), aparece logo depois de Jeremias, mas na Bíblia Hebraica está entre os livros históricos (hagiógrafos).

É de origem sacerdotal e nasceu próximo de Jerusalém, por volta do ano 650 antes de Cristo. Tinha cerca de 25 anos, quanto foi chamado por Deus (em 626, no décimo terceiro ano de Josias). Viveu o período tumultuado em que o Reino de Judá ruiu. Primeiro, contudo, tinha vivido a reforma do Rei Josias, que havia enchido o povo de esperança. Quando Josias morreu, em 609, as coisas mudaram. O Império Caldeu ganhou força e, três anos mais tarde, Nadbucodonosor impôs seu domínio sobre Jerusalém. Primeiro esse domínio foi bastante pacífico, mas os judeus, instigados pelo Egito, se revoltou e Jerusalém foi conquistada e a população foi deportada, em dois momentos diversos. A segunda deportação, em 597, coincidiu com a destruição do Templo e a ruína de Jerusalém.

Durante todo esse período Jeremias foi um dos protagonistas da situação, pregando, ameaçando e anunciando a ruína eminente. Admoestou os reis, em vão. Foi acusado e até mesmo colocado na prisão.

Via nos exiliados a esperança do futuro de Israel, mas ele mesmo pode ficar em Jeruasalém, junto com Godolias, que fora nomeado governador pelos Caldeus. Quando Godolias foi assassinado, um grupo de judeus, com medo das represálias, decidiu fugir para o Egito e levou consigo Jeremias. E depois disso não temos mais notícias dele. Provavelmente morreu naquele país.

 

O drama do profeta

Parece que era uma pessoa boa, mas teve que anunciar a catastrofe, foi enviado para "arrancar e destruir, para exterminar e demolir" (Jeremias 1,10). Não pôde escapar dessa missão e isso lhe torturava. Tanto que chegou a dizer: "maldito o dia em que nasci" (Jeremias 20,14).

Todavia, a sua mensagem foi determinante para a História da salvação. Graças a ele sabemos que "Deus sonda os rins e os corações". Ensinou também que a amizade com Deus se rompe pleo pecado, que provém do coração malvado. E a sua mensagem não é pessimista, pois anuncia a Nova Aliança (31,31-34).

 

Para quem foi escrito

Os destinatários de um livro bíblico são muito importantes, pois muitas vezes condicionam a mensagem. Podemos apenas deduzir quem eram os destinatários, a partir da própria mensagem, mas não temos certeza, pois nada é dito no livro.

É provável que era uma mensagem, primeiro de tudo, dirigida aos seus contemporâneos, um convite endereçado aos dirigentes, para que se convertessem e evitassem a desgraça, para que evitassem a destruição, instrumento na mão de Deus para purificar o povo eleito. Os que posteriormente reuniram os ensinamentos do profeta tinham o objetivo não só de perpetuar a sua mensagem, mas de torná-la viva para todos os que a lessem, soando como uma pregação sempre atual, um convite à conversão, um apelo a renovar a Aliança.