Como repito sempre, é muito bom aplicar a Bíblia à nossa história, àquilo que vivemos no quotidiano. Todavia precisamos ter também um pé no contexto bíblico, sempre iluminados pela nossa fé. Toda leitura bíblica, portanto, supõe três aspectos: um pé no contexto bíblico, um pé na nossa vida e o coração em Deus. Vamos aplicar esse princípio ao texto de Apocalipse que você menciona e analisar a sua reflexão.

Apocalipse 13, como sabemos, trata do Dragão que transmite seu poder à Besta e, a partir do versículo 11 desse capítulo, o acento é colocado sobre a figura do falso profeta que está a serviço da besta e engana as pessoas. E desse falso profeta que fala os versículos que você menciona, 15-17:

"Foi-lhe dado até mesmo infundir espírito à imagem da Besta, de modo que a imagem pudesse falar e fazer com que morressem todos os que não adorassem a imagem da besta..."

Ao falso profeta, parece ter sido dado um poder extraordinário. E continua dizendo o que você menciona:

"... recebam uma marca na mão direita ou na fronte, para que ninguém possa comprar ou vender se não tiver a maraca, o nome da Besta ou o número do seu nome".

E conclui, no versículo 18, com um texto muito importante e pouco lembrado:

"E aqui é preciso discernimento! Quem é inteligente calcule o número da besta, pois é um número de homem: seu número é 666."

 

Interpretando o falso profeta, a besta e o número 666

Existe bastante acordo sobre o fato que o número 666 tem por trás o nome de Nero César. Em hebraico esse nome deve ser transliterado em nrwn qsr, cujo valor numérico em é 666. Por outro lado reduzir o número 666 unicamente ao imperador Nero é limitar a mensagem de João. Provavelmente, na mente do autor do Apocalipse, O império romano, a besta, era a encarnação do mal, pois perseguia os cristão, mas hoje creio que o número 666 deva ser referido, em modo simbólico, a toda realidade má, que afasta de Deus e dessa forma mantemos viva a visão profética do Apocalipse. Por isso, interprete como "falso profeta" tudo o que pregue uma vida longe de Deus, que tenta vender como mensagem vital um pecado, um consumismo desenfreado, valores efêmeros, falta de espiritualidade, etc.

A marca na mão direita ou na fronte indica duas posições centrais do ser humano. A mão direita é aquela normalmente dedicada à ação, é aquela que executa o que a fronte, a cabeça cogita, pensa. O convite do último livro da Bíblia, portanto, é para que verifiquemos em que está focado a nossa ação e o nosso pensamento. Deixamo-nos influenciar por falsas doutrinas, seguindo seus ditames, ou somos capazes de estar do lado do salvador, que tem valores eternos?

Os recursos tecnológicos usados hoje para a identificação digital não tem nada a ver com a reflexão proposta por Apocalipse. Alguém pode muito bem ter um chip no próprio corpo, uma tatuagem ou outro sinal qualquer e servir intensamente a Deus. O autor do apocalipse está indagando sobre o coração, sobre o comportamento que nasce da adesão enraizada no mais íntimo do ser humano.