Resumi com a pergunta acima uma colocação muito mais complexa que nos chegou do Sérgio. Ela foi colocada literalmente assim:

Vou só perguntar uma coisa. A biblia não consiste em leis de Moisés e graça de Cristo. Se estamos na lei, não podemos estar na graça. E o dízimo está na lei, certo? Lei de Genesis a Atos; graça de Atos em diante; dízimo nos templos, não no cristianismo. A bíblia nos diz que não adianta fazer uma e não fazer a outra. Lei, sacrificios, graça, misericordia. Ou você que dá o dízimo está comprando sua vida eterna. Muitos se preocupam com esta vida, mas e a vida eterna? Hoje muitos irmãos, ao ver uma igreja simples, não entram: essa aí não tem unção, pois os membros não são prósperos.

Há vários elementos nessa sua grande pergunta. Da minha interpretação, talvez não completamente correta, parece que o cerne da questão é o valor que tem o Antigo Testamento para nós cristãos. Poderíamos nos questionar: Se Deus em Cristo é tudo o que precisamos, pra que ter que ainda ler o Antigo Testmento, que parece ser incompleto, limitado, com visão curta?

Essa questão foi tema de muito debate na história do cristianismo. Marcião, ainda no segundo século da história da igreja, dizia que o Deus do Antigo Testamento era diferente do Deus do Novo Testamento e que nós devíamos seguir o Deus do Novo, muito superior àquele do Antigo. Essa doutrina foi condenada pela igreja, pois não contempla a verdade da revelação. O Deus do Antigo e do Novo é o mesmo, revelando-se na história, respeitando o processo de aprendizado humano. Como um pedagogo, Deus pega pela mão o povo dos hebreus e se revela. Através dos judeus se revela a todos os povos e em Cristo essa revelação é total.

Para explicar essa lógica, gosto de usar um exemplo. Quando entramos na escola, criança, aprendemos a contar nos dedos e a somar 1+ 1 = 2. É algo tão inocente, tão elementar, mas uma passagem fundamental no percurso de aprendisagem matemática. Hoje, grandes, provavelmente somos até capazes de resolver equações do terceiro grau e nem nos recordamos do esforço necessário para aprender a fazer uma adição elementar. Todavia, aquela passagem da nossa infância é fundamental para entender uma equação complexa. Isto é, mesmo se não usamos, saber somar 1 + 1 é fundamental para resolver uma equação.

O que ensina o Antigo Testamento é válido até hoje para nós cristãos. Como diz Cristo em João, Moisés fala dEle. Por isso, um testamento é chave para entender o outro e os dois se completam. Não posso imaginar a Bíblia sem o Antigo Testamento.

Outra questão de fundo que você põe é o tema da prosperidade, ligado provavelmente ao dízimo, se entendi bem. Como já dito muitas vezes aqui, o dízimo perdeu um certo valor como fator social, como ajuda a uma parte da população que não teve herança, mas é uma excelente expressão de solidariedade, de ajuda na manutenção da própria comunidade. Não creio que deva ser taxativo, 10%. Depende do que faz a comunidade e supõe, ao mesmo tempo, muita transparência, pois como disse São Francisco de Assis, o dinheiro é o esterco do demônio. De uma coisa, todavia, podemos ter certeza: a prosperidade não é retribuitiva, não vem graças ao dízimo que você dá. Certamente a solidariedade lhe traz felicidade, mas não aquela material e sim aquela espiritual, aquela que conta.