O Purgatório é um elemento importante da doutrina escatológica católica, não apoiada pela maior parte de outras confissões cristãs. Segundo a visão católica, o purgatório é uma dolorosa e necessária condição de purificação, através da qual passam as almas dos defuntos que, mesmo sendo na graça de Deus no momento da morte, não são plenamente purificadas. Essas almas sofrem para repagar a Justiça divina, para então ir ao Paraíso e se apresentar diante de Deus. Por isso esse estado não é entendido como uma punição cruel, mas, ao contrário, fruto do amor de Deus. Tal teologia considera que uma alma imperfeita não poderia estar diante de Deus sem sofrer imensamente pela própria miséria. Por isso o Purgatório é um estado da alma (não um lugar!) necessário para alguns cristãos.

As igrejas protestantes, históricas, não aceitam a doutrina do purgatório afirmando que, segundo o Novo Testamento, a obra de expiação de Cristo na Cruz purifica o pecador que confia nele de todo o pecado, passado, presente e futuro, como está escrito em 1João 1,7: Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.

Historicamente Lutero desafiou os ensinamentos da igreja católica sobre a natureza da penitência e a utilidade das indulgências. Esse conflito fez com que fosse rejeitada qualquer possibilidade de diálogo sobre o tema.

Além disso, a passagem bíblica sobre a qual se baseia a doutrina católica se encontra em 2Macabeus, um dos livros considerados como apócrifospelos protestantes, pois escrito em grego e não em hebraico e, portanto, ausente da Bíblia Hebraica. 2Macabeus 12 fala da morte de alguns soldados que defendiam a religião judaica. Todavia eles tinham tomado algumas estátuas de ídolos gregos e por isso os fiéis recorreram à oração, suplicando que os pecados cometidos fossem perdoados (versículo 42). Nos versículos 44 e 45 continua: Pois se não tivessem confiança que os que caíram seriam ressuscitados, teria sido supérfluo e em vão rezar pelos mortos. Mas se ele considerava a grande recompensa reservada àqueles que se adormentam na morte com sentimentos de piedade, a sua consideração era santa e devota. Por isso foi oferecido o sacrifício de expiação pelos mortos, para que fossem perdoados dos seus pecados.

Outro texto, do Novo Testamento, muitas vezes usado para defender a tese do purgatório, é a carta de Paulo aos Coríntios, no capítulo 3: Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo (versículos 14 e 15).