Qual tem sido o nosso método? Temos realmente feito a experiência com Jesus ou nosso amor pela sua causa tem sido muito superficial? Somos capazes de dar nossa vida pela missão? Temos sido arautos do Senhor ou estamos tomando a glória de Jesus nos auto-promovendo? Qual tem sido a nossa prática Cristã?


 

Gostaria de desenvolver as temáticas dos versículos 35 ao 42, do capítulo 1 do evangelho de João destacando três momentos importantíssimos e acentuados pelo autor. O primeiro sobre a necessidade de “perder” para “ganhar”. No segundo, destaco que as palavras de Jesus eram, para João, sempre acompanhadas por fatos. E, finalmente, aquele que faz experiência com Jesus também quer que o outro (irmão) conheça o amor infinito de Deus, no Filho.

 

Um dos nossos modelos de pregador é, sem dúvida João Batista. O homem que se deixar trabalhar pelo Espírito Santo sabe interiormente “perder” para “ganhar”. Na verdade, não há, a princípio, a intenção de “perder” para, no fim de tudo, receber a recompensa, isto é, “ganhar”. O homem de Deus não busca, ou melhor, não deveria buscar recompensas, pois, suas intenções estão ou deveriam estar marcadas por essas palavras: “não fizemos nada mais do que nossa obrigação”. Portanto, o Reino dos Céus é diferente do Reino Humano: perdendo, conseqüentemente, ganhamos, sem, contudo, ficar esperando ser recompensado. É automático. 
 

O exemplo de João mostra-nos uma abertura de coração à voz de Deus que fala no íntimo do seu servo. João XXIII disse certa vez que “é bom ser importante, mas é mais importante ser bom”. Em outras palavras, torna-se muito bom servir a Deus, realizar suas obras, ser, pois, seu hábil instrumento, mas muito mais importante que isso, é se deixar ser trabalhado pelo Espírito Santo, a fim de que sejamos, realmente, como Cristo, bons. Bons pregadores, bons missionários, bons maridos, boas mulheres, etc. Um missionário sem o domínio próprio, sem o autoconhecimento, sem cura interior, sem discernimento do Espírito, ao invés de aproximar as pessoas de Jesus, acaba afastando-as. 
 

Queremos, finalmente, ser missionários conduzidos pelo Espírito Santo ou conduzidos por nossas próprias idéias, vaidades, orgulho espiritual? Torna-se preciso fazer-se discípulos. É esta a receita. Seguir Jesus é, sobretudo, fazer a experiência pessoal com Ele, assim como fizeram aqueles dois discípulos de João. 
João apontou o caminho, Jesus, e os seus discípulos deixaram o primeiro mestre para acompanhar o segundo. Seguir Jesus é, sobretudo, querer e viver como o Mestre. Buscar primeiramente saber onde mora o Mestre, o que Ele faz, qual o seu estilo de vida, suas condições. 
 

As palavras de Jesus eram, de acordo com o evangelista, acompanhadas pela ação: “Mestre, onde moras?”. “Venham e vejam!” O método de João é apontar ao cordeiro de Deus e o de Jesus é, através da ação, instruir aos dois discípulos que é preciso, primeiramente, fazer a experiência com Ele. Só após a experiência do discipulado, isto é, do amor de Deus em ação torna-se capaz de tornar-se um discípulo. Qual tem sido o nosso método? Temos realmente feito a experiência com Jesus ou nosso amor pela sua causa tem sido muito superficial? Somos capazes de dar nossa vida pela missão? Temos sido arautos do Senhor ou estamos tomando a glória de Jesus nos auto-promovendo? Qual tem sido a nossa prática Cristã?

 

André foi, discípulo tanto de João como de Jesus. Por isso, pôde aprender tanto com um quanto com outro ao ponto de, encontrando-se com Jesus, foi atrás de Simão Pedro para Jesus. Foi, pois, instrumento de Deus para Pedro. É Pedro quem recebe outro nome, indicando-lhe, conforme os homens de Deus do Antigo Testamento, que recebia do próprio Senhor uma missão importantíssima na Igreja. Seria pedra, fundamento, primus inter paris em relação aos outros discípulos. Mas isso não enciumou André. Os dons, carismas, ministérios, talentos do outro não podem ser motivo de ciúmes em nossa caminhada com o Senhor. É ele quem distribui conforme sua vontade. Deus é justo e distribui seus dons conforme sua vontade: “Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso?” (Mt 20, 15). 
 

Busquemos, portanto, seguir o modelo de Jesus, mas não ocupar ou usurpar o seu lugar ou o lugar do outro. Cada um tem o seu lugar na vinha do Senhor. De fato, somente aquele que faz a experiência com Deus deseja que o outro também faça.

 

Artigo publicado originalmente em: www.celsokallarrari.com