Obviamente o dilúvio não é um fato que historicamente atingiu toda a terra. É uma expressão mitológica usada para passar um ensinamento. O autor, usando mitos existentes na região do Oriente Próximo, principalmente da Mesopotâmia, pretende mostrar que o desenvolvimento da criação não agradava mais a Deus. Para inaugurar uma criação nova evoca uma grande destruição provocada pelas águas. Esse caos das águas permite purificar a humanidade (lembremos do batismo) e "começar" tudo novamente.

Quando lemos a história do dilúvio não podemos nos perguntar sobre coisas concretas, pois não é algo que realmente aconteceu, em proporções mundiais. É óbvio que na região não existiam os ursos polares nem os pinguins e cangurus e por isso não podem ter ido para a "arca". A única coisa certa é que onde esses mitos nasceram, na Babilônia, existiam dois rios importantes e por isso um fundo de verdade existe: pode ter acontecido uma grande enchente que deu motivos para a criação de histórias parecidas. Aliás, histórias de grande destruição e um novo começo existem em quase todas as culturas, também naquelas indígenas da América.

 

Os primeiros capítulos da Bíblia

Uma coisa interessante que notamos aqui no site é a dificuldade que os leitores da Bíblia têm em interpretar os primeiros capítulos da Bíblia e, ao mesmo tempo, a falta de abertura em ouvir a palavra de pessoas com autoridade para falar sobre o assunto. Quando falamos da criação, da história de Adão e Eva, se dizemos que não é uma narração histórica, muita gente fica alarmada e não consegue aceitar isso. E não há um biblista sério que retenha essa narração como um fato histórico. Ninguém sabe como foi o início da humanidade, historicamete falando. E muito menos quem escreveu a Bíblia, quando existia muito menos conhecimento científicos. Talvez, naquele período, existia muita mais fé do que hoje e isso levou os autores, inspirados por Deus, a interpretar de forma espetacular a mão de Deus que cria o universo. Essa é a única verdade que temos que absorver. Não podemos nos perder em perguntas como "com quem Caim se casou" ou "quantos animais foram para a arca". São perguntas sem lógica.

Sei que para muitos isso é difícil de entender, por causa de anos de ensinamento errado principalmente por parte das pessoas que deveriam ensinar de forma responsável: padres, pastores, agentes pastorais, professores. Hoje temos que ser bastante adultos na fé e deixar de lado o nosso fundamentalismo na leitura da Bíblia. Para fazer isso, é importante espaços como este, mas também o estudo individual, a procura por literatura responsável que oriente a nossa leitura da Bíblia, que deve ser obviamente a base de tudo.

Sobre o dilúvio, leia essa excelente resposta da Ombretta.