O Monte das Oliveiras e a Tradição cristã


(João Maria Allafort)


Assim como para o Judeu, o Monte das Oliveiras é para o cristão, antes de tudo o lugar da escatologia e do fim do mundo. Da mesma maneira que o Santo Sepulcro e a Basílica da Natividade de Belém, um grande Santuário com três naves, com atrium chamada de Eleona (em grego: oliveiras) foi construída no IV século por Helena, mãe de Constantino. Esta Basílica fazia memória do grande discurso escatológico que Jesus (Mc 13) pronunciou um pouco antes de sua morte sobre o Monte das Oliveiras.

Depois do ano de 1868, este lugar passou a se chamar com o nome “Pater Nostro”, e foi recuperado pelas irmãs carmelitas. Não muito longe outra Igreja foi erigida, no final do IV século, para comemorar a ascensão de Jesus que a tradição evangélica situa no Monte das Oliveiras. Os Atos dos Apóstolos precisam mesmo que Jesus “voltará da mesma maneira que vistes partir” (Atos 1,11). Daí vem a tradição cristã que quer que o Cristo por ocasião de sua segunda vinda se manifestará a partir do Monte das Oliveiras. No VII século, esta igreja foi transformada em mesquita. Uma vez por ano, na quinta-feira da Ascensão, os cristãos são autorizados a celebrar uma missa neste lugar.

No final do IV século igualmente, Theodosio construiu uma basílica nos pés do Monte das Oliveiras, junto ao vale do Cedron para comemorar a agonia de Jesus no jardim prensa, na véspera de sua morte, como contam os evangelhos (Lc 22,39-45). Hoje uma grande

Basílica chamada do Getsemani que foi terminada em 1924 se eleva sobre as ruínas da primeira. A poucos metros adiante, uma capela foi construída em memória da "prisão de Jesus” e a traição de Judas. Para um cristão, a agonia e a prisão no Monte das Oliveiras marca o início da Paixão de Jesus, evento fundamental da sua fé.

Em meados do século quinto, um novo santuário nasceu no Monte das Oliveiras, perto da Basílica do Getsêmani, o túmulo da Virgem. Em uma tradição judeu-cristã, do segundo século, a mãe de Jesus foi sepultada no Monte das Oliveiras, em uma caverna.

Escavações recentes no local confirmam que ele é um local de sepultamento do primeiro século. Na época do reino franco de Jerusalém, a cripta foi usada como um cemitério para os membros da família real. Hoje a igreja é mantida pelos ortodoxos gregos e armênios. Muitos peregrinos vêm aqui no dia 15 de agosto, festa da Assunção da Virgem. Como para Jesus, a tradição cristã diz que Maria foi levada para o céu a partir do Monte das Oliveiras.

O local "Dominus Flevit" comemora quando Jesus chora sobre Jerusalém, dado que o povo da Cidade Santa não o reconheceu como o Messias esperado (Lucas 19, 41-44). As escavações evidenciam os restos de um mosteiro, do século 5, a capela do mosteiro franciscano foi construído em 1955.

Finalmente, Jesus partiu de Betfagé, uma aldeia no extremo sudeste do Monte das Oliveiras, para estar em Jerusalém alguns dias antes da Páscoa (Mt 21, 1-11). A cada ano, no domingo de Ramos milhares de fiéis cristãos fazem uma grande procissão a partir de Betfagé até a Cidade Velha em comemoração à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. A Igreja atual de Betfagé, construída em 1887, foi erigida sobre o antigo santuário dos cruzados.


Monte das Oliveiras, local escatológico.

A tradição bíblica, como a tradição judaica antiga e rabínica, e a tradição dos primeiros séculos do Cristianismo fazem do Monte das Oliveiras, a montanha da escatologia. Lembremos que para o livro de Zacarias, no final dos tempos, o Monte das Oliveiras é o teatro do último combate e o lugar onde a nova era será inaugurada: "Então o Senhor sairá para lutar contra as nações, como quando Ele combateu no dia da guerra. Naquele dia os seus pés estarão sobre o Monte das Oliveiras, que está em frente a Jerusalém para o oriente. E o monte das Oliveiras se romperá pelo meio, de leste a oeste, em um imenso vale, uma parte vai para o norte e outra para o sul" (Zacarias 14,3-4).

De acordo com o livro de Enoque (apócrifo do Velho Testamento) é ao pé do Monte das Oliveiras que acontecerá o julgamento final: o mal vai para o inferno e os justos para o Vale Kidron (Cro 26). Jesus antes de sua paixão, pronunciando seus discursos escatológicos no Monte das Oliveiras se inscreve nesta mesma tradição: “Como ele estava sentado no monte das Oliveiras, em face ao templo, Pedro, João, André e Tiago, interrogarem-no, em particular: `Diga-nos, qual será o sinal de que tudo vai acontecer`“? (Mc 13, 3-4)

Portanto, não é surpreendente ver Jesus chorando sobre Jerusalém a partir do Monte das Oliveiras (como David chorou) e faz um discurso escatológico (Lc 19, 41-44).

Lucas e os Atos dos Apóstolos colocaram a ascensão de Jesus no Monte das Oliveiras, insistindo que "ele virá da mesma forma que subiu aos céus." (Atos 1: 11) O texto evangélico mais uma vez insiste sobre a continuidade da tradição bíblica e judaica. Os túmulos judaicos testificam esta crença na vinda do Messias a partir do Monte das Oliveiras e na ressurreição.

Na tradição cristã, se situa também a Dormição da Virgem e sua ascensão ao céu sobre o Monte das Oliveiras como evidenciado no relato do apócrifo da Dormição da Virgem. No documento Transitus latino do Pseudo-Melito de Sardes aprendemos que Maria viveu com os pais de João, cuja casa estava no Monte das Oliveiras (II, 2). Em outro livro apócrifo, “A Ressurreição de Bartolomeu”, os doze Apóstolos são elevados ao céu com Jesus sobre Monte das Oliveiras (18,1). No Apocalipse de Pedro, apócrifo do século II, é sobre o Monte das Oliveiras que o apóstolo Pedro revela a seus discípulos os eventos relacionados com a Parusia, como Jesus fez com seus apóstolos. (1, 1-3).

O Monte das Oliveiras é em primeiro lugar e antes de tudo para a Igreja primitiva, em fidelidade com a tradição bíblica, a montanha escatológica. O lugar onde os olhos estão voltados para o Messias que vem em sua Glória.