O perdão é um dom de Deus, fruto de uma conversão do próprio indivíduo. Deus não pode perdoar se não existe, da nossa parte, uma vontade de rever os nossos erros e começar uma nova estrada. Nada garante que não voltamos a cair; faz parte da natureza humana. Para Deus importa a vontade de se erguer, de reconhecer o próprio erro e de querer voltar à casa paterna, como conta a parábola do filho pródigo, em Lucas 15. Nessa passagem, fica claro que a misericórdia é a característica de Deus. Ele espera o filho, que errou, de braços abertos. É verdade que nunca obriga o filho a voltar, mas está sempre pronto a acolher-lo.

Outro ponto de referência é o diálogo de Jesus com Pedro. Mateus 18,21-22 diz:

Então Pedro chegand9o-se a ele, perguntou-lhe: "Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?" Jesus lhe respondeu: "Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete".

Nessa passagem percebemos dois elementos importantes. O primeiro é que o perdão não tem limites. Isso é presente no uso do número 7, que indica uma realidade completa (7 pecados capitais, 7 sacramentos, 7 virtudes, 7 candelabros, etc). Outro aspecto é a relação com o outro, com o próximo. Isso é revelado graças à ligação existente desse texto com Gênesis, onde se diz que Caim será vingado 7 vezes e Lamec, descendente dele, 77 vezes (Gênesis 4,24). Jesus rompe essa dinâmica de violência e propõe o perdão até mesmo para quem merece a vingança, sendo o próximo também aquele que nos faz mal.

A conclusão resulta evidente: se Jesus propõe aos seus seguidores essa atitude, ele mesmo a encarna, dispensando o seu perdão.