Embora não haja menção explícita da inspiração nas páginas do Antigo Testamento, há muitas passagens que a sugerem. Somos informados, por exemplo, que foi por ordem divina que Moisés escreveu o livro da Aliança (Ex 24,4-5; 34,27) e que Jeremias registrou num livro os oráculos do Senhor (Jr 30,2; 36,2). Dessa forma os judeus acreditavam que todos os seus livros procediam de Deus. A Igreja herdou essas Escrituras e aceitou o caráter sagrado delas. Jesus já as tinha citado como a Palavra de Deus (Mt 22,31; Mc 7,13; Jo 10,24-25). A crença da Igreja na inspiração divina das Escrituras também é clara, com referência aos tempos mais antigos, na tradição dos Padres e no ensino dos teólogos de todas as épocas. Os Padres mais antigos classificaram as Escrituras de “oráculos de Deus” que foram “ditados pelo Espírito Santo, o qual usou os escritores sagrados como “instrumentos”. Mais tarde, os escritores falaram do Espírito Santo como o “autor” das Escrituras e afirmaram que ambos os Testamentos foram inspirados pelo Espírito. O ensino dos Padres sobre a inspiração pode ser resumido em duas afirmações: Deus é o autor da Bíblia; o escritor humano é instrumento de Deus.

Essa teologia é algo consolidado: a Bíblia foi escrita por mãos humanas, inspiradas por Deus. Todavia, dessa afirmação nasce um problema, que está à base de inúmeras interrogações, sobretudo de quem se considera agnóstico. A questão é: Se a Bíblia é inspirada por Deus ela não pode conter erros; ela traz somente a verdade.

Ora, o advento das ciências colocou em xeque essa afirmação. Por exemplo, se antes se acreditava que a terra estava no centro de tudo e que até mesmo o sol dava voltas em torno dela, hoje em dia sabemos bem que não é assim: vivemos apenas em um planeta, que tem o sol como ponto de referência e dá voltas em torno dele. Essa verdade, todavia, não destroi a verdade bíblica. Usando as mãos humanas, a verdade divina está inserida dentro de um contexto limitado, pontual, limitado pelo conhecimento e costume do escritor humano. Apesar desse limite, que depende do ser humano e não de Deus, a verdade transparece, purificada do instrumento que foi necessário para transmitir-se: a cultura, os costumes de uma época muito antiga.

A mensagem de Deus não é revelada de uma hora para outra, mas, de maneira pedagógica, Deus se revela na história, com paciência, como um pai que educa uma criança, dia após dia. A educação é um processo. Assim também a revelação. E esse processo, embora começado, ainda está em caminho, sobretudo na perspectiva de quem se aproxima da Palavra de Deus. É nesse sentido que  o Antigo Testamento até hoje é de suma importância, pois como orientou o povo na época dos hebreus, serve para nos orientar a descobrir em Cristo a Verdade plena que Deus quis revelar.

A Bíblia como verdade revelada, não é uma questão científica, mas sobretudo uma questão de fé, de aceitar Deus como princípio da nossa vida. Se não existe esse pano de fundo, a inspiração divina das Sagradas Escrituras é muito difícil de ser entendida e a Bíblia se torna simplesmente um livro antigo.

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