Foi Jefté, um dos juízes de Israel. Essa história está em Juízes 11. O colega Odalberto já elaborou, de forma exaustiva e clara, uma resposta sobre a questão do voto de Jefté. Apesar disso sublinho uma reflexão que tive oportunidade de escrever em outro momento.

Não é fácil, para nós hoje, aceitarmos a existência de sacrifícios humanos, sobretudo se ele é feito em nome de Yahweh, por causa de um voto feito a Deus. Todavia há algumas passagens bíblicas que mostram como podem ter acontecidos episódios de sacrifícios humanos no meio do povo de Israel. Por exemplo, 2Reis 16,3 diz que Acaz, rei de Judá, "chegou a fazer passar seu filho pelo fogo". A mesma coisa fez outro rei de Judá, Manassés (2Reis 21,6). Além disso, sabemos também que era um costume dos povos que confinavam com Israel, como os Moabitas (veja 2Reis 3,27). A própria atitude de Abraão que se presta a sacrificar o filho (Gênesis 22) pode também ser tomada como testemunho de um comportamento existente durante algum período da história de Israel. É claro que indico essas citações sem entrar no mérito da questão. Sabemos perfeitamente que todas essas passagens são vistas de forma negativa pelos autores dos textos bíblicos. Quero apenas mostrar que o escândalo que provoca em nós o sacrifício de uma pessoa humana não é o mesmo que podia provocar no passado.

Não descarto a possibilidade que Jefté possa ter sacrificado a sua filha. Todavia é muito importante sublinhar que, se isso aconteceu, não significa que essa fosse a vontade de Deus. Ao contrário, a vontade divina é expressa na Lei. Lemos, a propósito:

  1. Não entregarás os teus filhos para consagrá-los a Molec, para não profanares o nome de teu Deus (Levíticos 18,21);
  2. Todo filho de Israel, ou estrangeiro que habita em Israel, que der um de seus filhos a Molec, será morto (Levíticos 20,2);
  3. Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha (Deuteronômio 18,10).

Consagrar ou dar a Molec significa sacrificar com a morte, 'passar pelo fogo'. Molec é uma palavra fenícia que descreve um tipo de sacrifício, tipo de holocausto. Essa palavra foi até divinizada em Ugarit, onde aparece como um deus.