Para introducir o tema da datação do livro de Daniel é necessário ver o seu conteúdo. Ele, em linhas gerais, pode ser dividido em 2 partes:

1. Capítulos 1-6: são relados sobre Daniel ou seus companheiros que se encontram na Babilônia, durante o reinado de Nabucodonosor (604-562 a.C), Baltazar e Dario. Nesses episódios, os protagonistas triufam diante de provocações, que os conduziriam à morte. Graças a sua vitória diante de situações trágicas (por exemplo, na cova dos leões - Daniel 6), os pagãos glorificam a Deus.

2. Capítulos 7-12: São visões, onde também Daniel é favorecido. O contexto é sempre Babilônia, mas são ambientadas a partir do reinado de Baltazar até Ciro (590 - 529 a.C.), rei da Pérsia que conquistou Babilônia.

Essas duas partes fez com que alguns pensassem que, na verdade, Daniel, na origem, fosse duas obras diferentes, unidas por um editor.

Há outros aspectos que dificultam o estudo sobre a datação. Por exemplo em 2,4 temos uma mudança brusca de língua, passando do hebraico ao aramaico. Ainda, na primeira parte a narração é feita na 3 pessoa, mas na segunda é o próprio Daniel que fala. Por outro lado há vários elementos que unem as duas partes e deixam bem claro que se trata de uma obra unitária.

A questão da datação é definida sobretudo pelo capítulo 11 do livro. Nele, as guerras entre selêucidas e lágida e uma parte do reinado de Antíoco Epifanes (215 - 164 a.C.) são narradas com detalhes evidentes. Ao mesmo tempo, a partir de 11,40, o autor fala do "tempo do fim", esperando numa mudança, que ainda não acontecera. Essa mudança acontece com a vitória da insurreição macabaica, entre 167 e 164 antes de Cristo. Portanto, poderíamos dizer que o livro foi escrito entre os anos 200 e 167 a.C..

Como explicar, então, as narrações ambientadas na Babilônia, 3 séculos antes? Na verdade os relatos da primeira parte, que se situam em época caldéia, mostram que o autor está muito longe dos acontecimentos. Há erros graves com relação às informações históricas. Por exemplo, Daniel diz que Baltazar, um rei, é filho de Nabucodonosor. Na verdade ele nunca teve o título de rei e fora filho de Nabônides e não de Nabucodonosor.

Provavelmente o autor tomou emprestado uma figura da tradição, que Ezequiel 14,14-20 e 28,3 cita como justo e sábio dos tempos antigos, citado já num texto escrito no século XIV anted da era cristã (poemas de Râs Shamra) e transmitiu sua mensagem ao judeus que conviviam com a helenização promovida por Antíoco Epifanes, mostrando como se podia conservar a própria religião em situação adversa.