Gênesis 4,10, dentro do contexto da narração que conta como Caim mata seu irmão Abel, diz: Iahweh disse: Que fizeste! Ouço o sangue de teu irmão, do solo, clamar para mim!

A interpretação de tal passagem não é muito complexa. De fato comumente usamos expressões como �??o sangue dos inocentes clama por justiça�?�. Embora existam muitos elementos a serem aprofundidos, basicamente o autor da passagem diz que é preciso fazer justiça e talvez lembra também a vida dentro de um clã, onde se exercia muito duramente a vingança do sangue: se alguém derramava o sangue ele mesmo devia derramar o próprio. Nesse sentido o sinal que Iahweh põe sobre Caim o defende (E Iahweh colocou um sinal sobre Caim, a fim de que não fosse morto por quem o encontrasse �?? Gênesis 4,15).

Não sei se a segunda parte da sua pergunta, na sua intenção, era ligada à primeira, a este texto da Gênesis. As duas questões não são ligadas diretamente. Há sim, uma ligação fundamental: o sangue, símbolo da vida, pertence unicamente a Deus. Lemos em Levíticos 17,14: �??Porque a vida da carne está no sangue. E este sangue eu vo-lo tenho dado para fazer o rito de expiação sobre o altar, pelas vossas vidas; pois é o sangue que faz expiação pela vida. Esta é a razão pela qula eu disse aos israelitas: �??Nenhum dentre vós comerá sangue e o estrangeiro que habita no meio de vós também não comerá sangue�?�. Esse conceito é sublinhado por Deuteronômio 12,23-24: �??Se firme, contudo, para não comeres o sangue, porque o sangue é a vida. Portanto , não comas a vida com a carne. Jamais comerás! Derrama-o por terra como água.�?�

Dentro desse contexto, o assassinato de Abel tem a ver com esse preceito, pois o sangue é a vida e não podemos tomá-la, visto que pertence a Deus (veja Gênesis 9,5-7). Daqui vem o preceito: Não matar (�?xodo 20,13).

Diante destas disposições é lícito perguntar-nos sobre a nossa relação com tal lei. Conhecemos bem a discussão e posição entre os irmãos Testemunhas de Jeová, que não concordam com a transfusão de sangue. Mas há muito tempo a questão suscitou debate entre os cristãos. O primeiro concílio, na época dos apóstolos, como testemunha Atos dos Apóstolos 15,28-29, comanda aos cristãos a abstenção do sangue. Por outro lado o apóstolo Paulo nos ensina que a Lei teve seu percurso, ensina a reconhecer Cristo (veja Romanos 7,1-6). Além disso, é evidente o conceito que Jesus, por meio da sua carne, anulou as leis feitas de prescrições e decretos, que incluia na Aliança somente o povo judeu, promovendo assim a paz entre os povos, criando um único povo, um único Homem Novo (Efésios 2,15).