O Antigo Testamento é fundamental para nós cristãos. Ele é o caminho pelo qual devemos passar se quisermos 'descobrir' o sentido pleno da revelação em Cristo. Portanto, as promessas ali presentes valem também para nós cristãos, para a nossa comunidade, para a Igreja.

Muitas vezes, na história, a importância do Primeiro Testamento (como seria politicamente correto chamá-lo) foi colocada em questão. Expressão máxima desse engano, foi, sem dúvidas, Marcião, que viveu logo após a morte dos apóstolos. Ele, em poucas palavras, dizia que os judeus tinham um Deus e  os cristãos outro, ou seja, um Deus no Antigo Testamento e outro no Novo. O primeiro deu a Lei aos hebreus, enquanto que o segundo mandou o próprio filho para nos salvar.  Somente o segundo, segundo o marcionismo, era o deus verdadeiro que trazia a salvação e que devia ser adorado pelos cristãos. E para colocar em prática essa doutrina, o teólogo de Sinope, criou um cânon(uma lista de livros bíblicos) especial: 10 cartas de Paulo e um evangelho, rejeitando completamente o Antigo Testamento, pois o considerava inspirado por um Deus inferior.

Mesmo hoje temos, muitas vezes, a tendência de nos fixar sobretudo nas passagens do Novo Testamento. Há muitos exegetas que sublinham que dentro da Bíblia existem textos mais importantes que outros, mas ninguém exclui passagens bíblicas. Todas elas são importantes no processo da revelação.

É muito importante, todavia, entender a Bíblia como um processo. Deus se revela aos homens, usando uma certa pedagogia. A revelação plena é encontrada em Cristo. Por isso não é errado pensar que os textos do Evangelho sejam mais significantes, embora nunca possamos excluir os passos anteriores, que nos conduzem à revelação de Cristo pelos evangelhos. Na caminhada do povo hebreu, iluminados pelos profetas, por exemplo, os olhos se abrem e podem receber a Cristo. A mesma caminhada deveríamos também nós fazermos. Nós, porém, somos previlegiados, pois podemos encontrar Cristo imediatamente.

Entender a Bíblia como um processo, como um caminho pedagógico conduzido por Deus, é uma boa perspectiva para entendermos tantos passos complicados presentes na Palavra de Deus, sobretudo em textos históricos do Antigo Testamento. Lendo passagens sobre as batalhas, sobre mortes, que podem parecer vontade de Deus, temos que ter presente que aquela visão era puntual, existente num certo período histórico e não a revelação definitiva. Significa um passo necessário na história da revelação, mas não o destino. Se não tivermos diante de nós essa consciência, muitas passagens bíblicas nos deixarão confusos.