Marcos, o tema que você propõe é muito comum aqui no site. Já respondemos algumas perguntas e há diversas que esperam respostas. Antes de ir direto ao assunto, queria revelar dois aspectos ligados à Palavra de Deus que subjazem nessas interrogações, um positivo e outro negativo.

 

O aspecto positivo é que queremos colocar a Bíblia como ponto de referência para nossas vidas cotidianas. Almejamos que, além da nossa relação com Deus, também o nosso interagir com o outro e conosco mesmo sejam regulados pela Palavra revelada na Bíblia. Embora isso comporte, da parte do leitor, um necessário dicernimento dos aspectos 'temporais' do texto bíblico é uma atitude intrinsicamente correta e precisa ser incentivada, estando atentos sobretudo ao espírito e não à letra, como admoesta Paulo.

 

O aspecto negativo é o risco do fundamentalismo. Essa palavra normalmente está ligada às atitudes extremas de alguns seguidores do islamismo, que se suicidam para reivindicar as próprias razões políticas, ou também  às ações radicais de algumas seitas. Todavia corremos também nós, cristãos, esse risco. Tal perigo existe, e deve ser eliminado, quando procuramos na Bíblia uma palavra que indique, ipsis litteris, o que devemos fazer em cada situação de nossas vidas modernas. Nesse sentido, prestemos atenção quando nos perguntamos, procurando textos bíblicos que nos deem respostas literais: Posso tomar álcool? É pecado me masturbar? Posso ir ao um show de música popular? Posso ver televisão? A mulher que usa calça cumprida comete pecado? Respostas literais para questões modernas não existem na Bíblia.

 

Sublinhei "literais" para deixar claro que existe, de qualquer forma, a necessidade de nos interrogar sobre nossos problemas, procurando respostas bíblicas. Aquilo que quero dizer é que não podemos pretender que, por exemplo, em João 10 vou encontrar uma resposta, a propósito, por exemplo, de tatuagem, que diga literalmente: "é pecado se tatuar". E quando existe uma evidência literal é sempre necessário julgar o contexto histórico no qual o texto em questão está inserido.

 

Espero que esse excursus não tenha distraído você, caro leitor, da pergunta enviada pelo Marcos: Existe algum mandamento que fala claramente sobre o que pode e o que não pode ser feito entre 4 paredes (sexo)? A resposta, diante da explicação feita, fica palese: não existe um mandamento na Bíblia que diga "claramente" o que um casal pode fazer "entre 4 paredes". Invés existem diversas exortações que nos admoestam como nos comportar em relação ao sexo, afinal de contas a sexualidade também no tempo da Bíblia era um elemento vital da vida do povo escolhido por Deus. É nesse sentido que precisamos ler textos como "Não cometer adultério" - Sexto mandamento - (Êxodo 20,14 - veja a reação de Jesus em Mateus 5,27-28) ou "Não desejar a mulher do próximo" - Nono mandamento - (Êxodo 20,17). Para tomar aspectos mais profundos poderíamos relembrar que homem e mulher são imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1,26-27), que somos Templo do Espírito Santo (1Coríntios 6,19). A partir daí deveria partir a nossa reflexão. E ainda deveríamos somar o fato que Deus é amor. Isso revela que também nós somos chamados ao amor. É por essa razão que vivemos intensamente um misterioso anseio de amor e comunhão. Essa vocação se concretiza de forma divinamente radical no casal que se ama e que se consagra para sempre um ao outro. Um dos elementos desta vocação é, sem dúvida, aquilo que acontece entre as "4 paredes". A intimidade, se guiada pelo amor e comunhão, não é negativa e não merece a nossa condenação.