Falar da Trinidade é falar do Mistério de Deus, tema característico da teologia cristã. Conta-se uma estória, que tem como protagonista Santo Agostinho, que ajuda a entender a complexidade deste tema. Certa vez, Santo Agostinho estava caminhando às margens do mar e viu um menino, que havia feito um buraco na areia. Com um balde pegava a água do mar e colocava dentro desse buraco. Santo Agostinho, observando-o, comenta: você nunca conseguirá colocar toda a água do mar dentro desse buraco. O menino, então, respondeu: é mais fácil colocar toda a água do mar dentro desse buraco do que entender o mistério da Trinidade.
Esta estória não pretende dizer que é impossível entender a Trindade e que é inútil falar desse tema. Quer apenas ensinar que, sendo um mistério, não conseguiremos nunca acolher toda a realidade que engloba. Por isso é muito normal a sua situação; de fato você diz que já ouviu sobre o tema, mas ainda não ficou contente. Certamente também não ficará contente com essas palavras que estamos escrevendo. Isso deve ser um incentivo para que você possa continuar sempre procurande entender esse mistério. A fé deve incentivar a busca do entendimento.

Entrando no tema propriamente dito, sobretudo do ponto de vista bíblico, diria, como ponto de partida, que na Bíblia não existe um tratado, uma discussão sobre esse tema. O termo nem aparece na Bíblia. Aparece, no Oriente, com Teófilo de Antioquia (trias, tríade) e, no Ocidente, com Tertuliano (trinitas, trinidade). Hoje o conceito principal que envolve a palavra Trinidade é o da unidade de Deus, ou seja, três pessoas, Deu-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo, que formam uma perfeita comunidade. Porém no início, com Teófilo e Tertuliano, a intenção era somente de distinguir o Deus cristão do Deus do monoteísmo judeu, sobretudo. Mais tarde, a investigação teológica passou a afirmar a relação que existe entre as três pessoas que formam a Trindade.

Dizíamos que Trindade não aparece na Bíblia, porém o fundamento desta teologia é, obviamente, bíblica. Trinidade significa o Deus de Abraão, Isaac, Jacó, Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, que manifesta e envia o Espírito Santo como dom que vem do Pai por meio do seu Filho. O Novo Testamento apresenta a salvação de Jesus, que é aquele que revela o Pai e, ao mesmo tempo, é meio que conduz o homem ao Pai através da santificação do Espírito Santo. O Espírito Santo, por sua vez, é aquele que conduz o homem à verdade, que é Jesus Cristo (Evangelho de João). Desse modo Deus é apresentado como uma dinâmica de amor, na qual os homens são inseridos através do mistério da morte e ressurreição de Cristo.

Além de apresentar a união do Pai, Filho e Espírito Santo, a Bíblia apresenta também a distinção que existe entre eles. O Pai é iniciativa e princípio, o Filho recebe e acolhe. Também o Espírito Santo provém do Pai e é transmitido por meio de Jesus, que o doa sem medidas (João 7,39). Por isso a teologia sintetiza a profissão de fé na trindade dizendo que Deus é 3 pessoas, mas essas 3 pessoas têm a mesma natureza (omoousios), isto é, uno e trino.