Faltando outros elementos, penso que você se refere ao conjunto de alimentos permitidos e proibidos pela lei de Moisés no Sinai, da qual encontramos uma lista em Levíticos 11. Antes desse texto, não temos nenhuma referência àquilo que os hebreus não comeram, mas sim àquilo que comeram: as codornas e, sobretudo o maná, alimento este que acompanha todo o período de peregrinação do povo.
Independentemente do alimento específico, trata-se de qualquer forma de alimento que Deus mesmo coloca à disposição do seu povo, para que lembre constantemente que lhe é dada por Deus.
Um motivo do silêncio sobre o alimento não comido no deserto pode ser o fato que no deserto não é possível ter nada além daquilo que se encontra lá, invés as prescrições alimentares têm a ver com viver em uma terra habitável, tendo à disposição todo tipo de bens. Porém existe também um outro motivo.

Quando se lêem os textos bíblicos, sobretudo se se trata dos primeiro 5 livros da Bíblia (o assim chamado �??Pentateuco�?� para os cristãos e �??Torah�?� para os judeus) temos que considerar algo muito importante: como diz o termo hebraico �??Torah�??, estamos diante de um ensinamento. O que isso significa? Significa primeiro de tudo que os Autores dos livros bíblicos usam as palavras, os símbolos, as imagens, as narrações que lemos não para nos transmitir uma crônica jornalística, mas para nos ensinar alguma coisa, para nos educar.

Desse primeiro sentido nasce também um outro: aquilo que se encontra na Bíblia não é certamente TUDO aquilo que pode ser dito e contato, mas só aquilo que ajuda a transmitir uma mensagem que, segundo o Autor, serve para alcançar a salvação.

Portanto temos que prestar atenção primeiro de tudo àquilo que está escrito, ao fato que na Bíblia se faz menção aos alimentos que Israel comeu no deserto e não aos alimentos que não comeu.

O deserto não é somente uma etapa geográfica da peregrinação do povo, mas um momento teológico que fundamenta o nascimento desse povo. O lugar em que Israel, que antes tinha apenas escutado falar em Deus, pode conhecer verdadeiramente Deus e caminhar com Ele.
As narrações, que encontramos nesses livros, são, portanto, narrações que pretendem ensinar algo sobre a relação do povo de Ceus com a vida, em um momento importante quando estava em constante perigo, em uma situação extremamente precária, uma situação que, exatamente por que assim precária, insegura, perigoga, induz facilmente a buscar seguranças, a agarrar tudo que pode garantir a sobrevivência para si e para os seus parentes, a duvidar até mesmo da presença de Deus.

Digamos que essas histórias nos ensinam que aquilo com que precisamos nos preocupar é a relação com Deus que doa, não com os dons de Deus.

No nosso caso, durante o camino no deserto, o alimento representado pelas codornas e sobretudo pelo maná é o sinal da presença e do cuidado que Deus tem sempre pelo seu povo. Antes de Israel entrar na sua Terra, ele recebe uma série de leis (o corpo legislativo é muito cheio de detalhes) que devem educar-lhe a estar na Terra segundo o modo de Deus. O decálogo, com a série de prescrições que nasceram dele, é exatamente esse estar no mundo segundo o modo de Deus.

A resposta a sua pergunta poderia parar aqui e concluir-se com esta afirmção: não é importante saber o que N�?O se comeu, mas o que se comeu, como e graças a quem. Aproveito, porém, a ocasião oferecida pela sua pergunta para ampliar um pouco o tratado, que tem a ver com o tema do alimento e das regras alimentares.

Também as regras alimentares são parte desse comportamento que deve expressar o modo divino com o que o homem é chamado a viver no mundo. Comer é viver e o modo de comer e aquilo que se come diz algo sobre a nossa relação com a vida e com Deus, que é o Doador da vida e do alimento.
Assim, para a Bíblia não se pode comer nem o sangue nem a gordura dos animais, pois eles são símbolos respectivamente da vida e da avundância de vida que pertencem somente a Deus. São duas realidades que são utilizadas nos rituais nas cerimônias de purificação e nos sacrifícios. A proibição de comer os frutos da árvore nos seus 3 primeiros anos de vida (Lv 19,23-25) vem provavelmente da necessidade de se educar ao respeito do ritmo produtivo da planta; a vida quando é frágil não deve ser nunca ameaçada!

Na lista de Lv 11,1-32 encontramos um esquema cheio de detalhes sobre os animais que podem ser consumidos ou não. Classificam-se os animais em vários grupos: quadrúpedes, peixes, alados, insetos e se distingüem em âmbido de cada grupo as espécies permitidas e aquelas proibidas. Em relação aos quadrúpedes (Lv .11,2-7 e Dt. 14, 3-9), são permitidos todos aqueles que têm o casco dividido e são ruminantes (entre os animais domésticos: os bovinos e ovinos; entre os selvagens o veado e outros). Claramente são proibidos os porcos, camelo, cavalo e gato. Entre os pássaros é permitido alimentar-se com todos, exceto 24 tipos, sobretudo aves de rapina e noturnos; normalmente se usam galinhas, pombas, codornas, marrecos. Finalmente entre os peixes é permitido comer todos aqueles que têm escamas e barbatanas.

A tradição hebraica vivente explica em diversos modos a observância destes preceitos.

1 �?? Muitas vezes à base de algumas proibições de comer certas espécies (sobretudo insetos) existe o desgusto por tal espécie. Precisa, porém, sublinhar que nesse modo podem ser explicados só uma mínima parte das proibições. E ainda a tradição rabínica insina que as proibições alimentárias são um tipo de educação alimentar do indivíduo.

2 �?? Um outro motivo atribuido a estas proibições, que tem maior popularidade entre as opiniões, é uma explicação higiênica-sanitária: alguns alimentos são proibidos por que são nocivos à saúde. Porém não é possível reduzir a Torah a um simples texto de medicina: �??Faça assim e viverá bem.�?�

3 �?? Uma outra explicação desses limites é ligado ao fato que alimentar-se com alguns tipos de animais introduz em nós as caracteristicas negativas ou positivas do próprio animal. Por exemplo, a proibição de comer aves de rapina teria o significado de rejeitar a violência, enquanto que o casco dividido representaria a separação e a distinção moral, as escamas e as barbatanas dos peixes a resitência e o auto controle.

Pretende-se, portanto, insinar que todo bem que foi dado ao homem para o seu bem estar não deve ser usado sem reflexão, mas somente depois de ter considerado o significado da ação que se faz. Em palavras pobres, pede-se aos homens e mulheres, através dessas proibições, um domínio sobre os instintos. Isto significa que alimentar-se tem a sua sacralidade que deve ser respeitada como todo ação quotidiana, ensina a ser padrão dos apetites, habitua a regular os desejos, a fugir do conceito que o comer e o beber são o último ideal da nossa existência.

Jesus que, recordamos, era judeu, introduziu um outro tipo de relação com essas prescrições. Querendo tirar fora toda a força do significado de santificação para o homem que está à base da observância das leis alimentares, ele relativiza a observância exterior, valorizando antes de tudo a atitude do coração e antepondo esta àquela (Mt 15,11-20).

A Igreja das origens, como mostram Atos 15,20, 1 Cor 8, Col 2,20-23, seguiu por certo tempo a estrada ditada pelas prescrições, mas com o tempo, tornando-se sempre mais uma comunidade que continha também fiéis que não vinham do hebraismo, pôs-se o problema da necessidade da observância radical. São Paulo exortou a considerar a composição das assembléias e das reuniões eucarísticas (onde eram consumados alimentos) feitas por cristãos provenientes do hebraísmo e provenientes do mundo pagão: o critério de comportamento a observar é a caridade, mediante a qual se convida a não prejudicar ninguém, a não escandalizar o próximo com um comportamento que não consegue entender.