Nosso leitor prossegue na sua pergunta:

O que os documentos da igreja apontam sobre a questão? E mais, é possível enxergar na Ceia instituída por Cristo, na Bíblia, um modelo sacrificial?

Na missa temos um verdadeiro sacrifício, mas trata-se da celebração da memória do sacrifício de Cristo, graças ao qual todos nós fomos salvados. Não se repete o sacrifício de Jesus na missa, que, como diz a Carta aos Hebreus, foi realizado uma vez para sempre. Não é nem mesmo uma renovação. Mas se trata de oferecê-lo novamente da nossa parte. Com a diferença que na cruz foi um sacrifício cruento, com sangue derramado, enquanto aquele que se realiza durante a missa não é cruento.

Para os católicos, conforme definição do Concílio de Trento, na missa é oferecido a Deus um sacrifício verdadeiro. É um dos sacramentos, definido como “eucaristia”, porque se trata de ação de graças a Deus. É a ceia do Senhor, antecipação do banquete nupcial com o cordeiro; é a fração do pão, rito próprio dos judeus utilizado por Jesus na última ceia; é assembleia, celebrada em encontro de fieis.

Junto com tudo isso, a missa é também “santo sacrifício”, como definido no Catecismo da Igreja Católica: “atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, «Sacrifício de louvor» (Heb 13, 15), Sacrifício espiritual, Sacrifício puro e santo, pois completa e ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança” (Catecismo 1330)

Para ilustrar de maneira mais objetiva, menciono abaixo alguns números do catecismo da Igreja Católica que tocam esse tema (veja nesse link):

1365. Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O carácter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da instituição: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós» e «este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 19-20). Na Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo que entregou por nós na cruz, aquele mesmo sangue que «derramou por muitos em remissão dos pecados» (Mt 26, 28).

1366. A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa (torna presente) o sacrifício da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto:

Cristo «nosso Deus e Senhor [...], ofereceu-Se a Si mesmo a Deus Pai uma vez por todas, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, para realizar em favor deles [homens] uma redenção eterna. No entanto, porque após a sua morte não se devia extinguir o seu sacerdócio (Heb 7, 24-27), na última ceia, "na noite em que foi entregue" (1 Cor 11, 13). [...] Ele [quis deixar] à Igreja, sua esposa bem-amada, um sacrifício visível (como o exige a natureza humana), em que fosse representado o sacrifício cruento que ia realizar uma vez por todas na cruz, perpetuando a sua memória até ao fim dos séculos e aplicando a sua eficácia salvífica à remissão dos pecados que nós cometemos cada dia» (191).

1367. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: «É uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira de oferecer é que é diferente» (192). E porque «neste divino sacrifício, que se realiza na missa, aquele mesmo Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora de modo cruento sobre o altar da cruz, agora está contido e é imolado de modo incruento [...], este sacrifício é verdadeiramente propiciatório» (193).

1368. A Eucaristia é igualmente o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo, participa na oblação da sua Cabeça. Com Ele, ela própria é oferecida integralmente. Ela une-se à sua intercessão junto do Pai em favor de todos os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos membros do seu corpo. A vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua oração, o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo assim um novo valor. O sacrifício de Cristo presente sobre o altar proporciona a todas as gerações de cristãos a possibilidade de se unirem à sua oblação.