A palavra de origem hebraica "satanás"aparece 36 vezes no Novo Testamento e o equivalente em grego "diàbolos" (diabo/demônio) 37 vezes. Trata-se de uma presença significativa que não pode ser ignorada e nem se pode dizer que se trata de um resíduo popular. Algumas vezes se fala, com linguagem bíblico, de "espírito imundo", em referência ao "impuro", que indica tudo aquilo que se opõe ao sagrado, ao bem, às coisas positivas, à área do templo e de Deus. Em alguns casos, por causa de uma antiga concepção que considerava a doença como punição de uma culpa, acontece que se fale de presença satânica em síndromes particulares como a epilepsia (o jovem epiléptico em Marcos 9,14-27) ou a doidice (talvez o caso dos endemoniados de Gerasa, em Marcos 5,1-20)

"Satanás" significa "adversário", "acusador" e indica um tipo de ministério público que no livro de Jó é descrito como presente na corte celeste e tem a função de denunciar os pecados das pessoas. "Diabo", invés, significa, em grego, "aquele que divide" e o termo tem somente uma sentido negativo: é aquele que tenta, que procura com todos os meios de separar o homem de Deus. Este aspecto predominerá na concepção bíblica e Satanás se torna a presença oscura na história, que tenta fazer com que a balança da liberdade humana pese mais na direção do mal, em oposição à graça divina que faz com que ela pese para o lado do bem.

Cristo fala diretamente com o demônio, como se fala com um interlocutor pessoal. Os diálogos de Jesus com ele representam um tipo de batalha contra o mal. O "adversário", de fato, espalha o joio da corupção; tem seguidores entre os quais podem aparecer até mesmo os discípulos de Jesus. É famoso o caso quando Jesus reage contra Pedro definindo-o um "satanás" por que "não pensa conforme Deus, mas segundo os homens" rejeitando o camino da cruz (Mateus 16,23).

A Páscoa, quando a morte de Cristo parece representar a vitória de Satanás, representa o momento decisivo da sua derrota. É verdade que Satanás parece que continue a sua obra de divisão com o "mundo" que o segue, mas no final o seu destino é aquele que o Apocalipse descreve, facendo-o cair "num lago de fogo" (Apocalipse 19,20). Também Jesus via ele cair do céu como um relâmpado (veja Lucas 10,18).

Esta imagem evangélica recorda a tradição que via Satanás como um "anjo caído"(veja Judas 6), mas demonstra ao mesmo tempo a certezza que "o Deus da paz esmagará Satanás sob os seus pés (Romanos 16,20). A primazia na história, na verdade, não cabe ao demônio, mas ao Senhor (Apocalipse capítulos 21 e 22).

O nome Belzebu, presente 7 vezes no Novo Testamento, era um nome de um deus dos filisteus, povo que morava na Palestina antes da chegada do povo hebreu, e significava "senhor príncipe". Em hebraico esse nome foi deformado e se transformou em Belzebub, que significa "senhor das moscas"e daí passou a designar o demônio, ou mais exatamente, o príncipe dos demônios (Mateus 12,24)