Prezada Marcia. Há algum tempo falei indiretamente sobre esse tema, quando respondi à pergunta sobre o uso de calça comprida. Aquela resposta serve como ponto de partida para uma resposta a sua questão.

A temática do véu aparece na Igreja do primeiro século com Paulo, exatamente na cidade de Coríntios. Paulo fala sobre a questão na sua primeira carta àquela comunidade, em 1Coríntios 11.
O capítulo fala da conduta, de homens e mulheres, na assembléia. Os versículos 4, 5 e 6 desse capítulo dizem assim:
�??(4)Todo homem que ore ou profetize de cabelos longos, desonhra sua cabeça.
(5) Mas toda mulher que ore ou profetize com a cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é o mesmo que ter a cabeça raspada.
(6) Se a mulher não se cobre com véu, mande cortar os cabelos! Mas, se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou raspados, cubra a cabeça!�?�
Mais a frente, no versículo 10, Paulo diz também que a mulher deve disciplinar o seu cabelo.

Sobre as palavras de Paulo não é preciso dizer muito: elas são conselhos de boa conduta, dirigidos a homens e mulheres. Porém a minha intenção é mostrar por que Paulo diz essas palavras e a importância que elas têm. Para ficar claro, vou fazer algumas precisações em pontos.

1. Paulo fala do véu somente na Igreja de Corintios e em nenhuma outra locadidade por onde passou durante as suas 3 viagens missionárias.
2. Fala sobre o comportamento de homens e mulheres, do cabelo curto das mulheres e do cabelo comprido dos homens
3. No versículo 5 fala da mulher que profetiza.
3. A cidade de Corintios, da qual hoje existem apenas ruínas, próxima a Atenas, na Grécia, era muito particular: lugar de cultos a diversos deuses e centro importante de comércio, por onde passavam diversas pessoas com difententes mentalidades.
4. Na grécia de então, quando uma mulher usava cabelos curtos ou o homem cabelos cumpridos era sinal de homosexualidade.
5. Existiam em Corintios, nos templos pagãos, as prostitutas sagradas, que tinham a cabeça raspada.

Diante dessas considerações podemos tirar algumas conclusões:
1. Paulo é capaz de analizar problemas particulares de cada comunidade e, em nome da caridade, encontrar a solução.
2. Paulo não é machista, pois não fala apenas do comportamento da mulher. Também os homens que têm os cabelos compridos não são bem-vindos na Assembléia. Além disso, no versículo 5, deixa transparecer o papel importante da mulher na comunidade: a profecia.
3. A Igreja de Corintios era formada por pessoas convertidas e elas, antes da conversão, podiam ter tido uma conduta não conforme à doutrina cristã, seja como prostitutas sagradas ou como homossexuais. Nesse caso tinham os cabelos curtos e sabemos que os cabelos não crescem de um momento ao outro. A solução então é cobrir a cabeça com o véu. Desse modo, em nome da caridade, a conduta anterior à conversão não influenciaria as relações dentro da comunidade. Isso porém não resolve o problema, pois as mulheres com cabelos normais, se ficassem sem véu, denunciariam aquelas que tinham o cabelo curto, mesmo se essas usasem o véu. Por essa razão Paulo insiste que também aquelas mulheres que não viviam em uma situação de pecado usassem o véu. Provavelmente haviam aquelas que não queriam usá-lo. �? então que Paulo se infuria: quem não usa o véu é como se tivesse a cabeça raspada, é como se fosse uma pecadora. Em prática, Paulo coloca em primeiro lugar a caridade: tudo em nome da caridade.

Marcia, creio que já dá pra tirar uma conclusão bem concreta para nossas comunidades. O véu hoje não tem nenhuma função e por isso o seu uso não é obrigatório. Ele, na comunidade de Coríntios, foi uma solução encontrada por Paulo para ensinar os cristãos a serem caridosos e também solidários. Hoje a comunidade cristã deve continuar praticando esse ensinamento de Paulo, o da caridade, e encontrar meios para que ela seja manifestada. Certamente o uso do véu, o cabelo curto ou comprido hoje não são necessariamente nenhum sinal e expressão de caridade na nossa vida cristã.

Concluo provocando. �? interessante notar que ninguém fala sobre os homens que em nossas comunidades usam o cabelo longo. Graças a Deus é assim, mas a mesma atitude deveria ser reservada aquilo que a mulher veste ou como se apresenta, pois caso contrário deveríamos pensar que as pessoas encarregadas de formar a doutrina de nossas comunidades são machistas.