Segundo a tradição, o casamento era precedido por um período de noivado, que começava com um acordo entre as duas famílias dos noivos. Esse noivado tinha o mesmo valor que o casamento e os dois eram já, portanto, comprometidos um ao outro como se fossem casados. Eles não podiam se encontrar; eventualmente se viam só de longe e acompanhados. Alguns dizem que esse período podia durar até um ano. Depois desse período, aconteciam as núpcias e os noivos passavam a viver juntos.

No caso de Maria, a anunciação do anjo dizendo que ela conceberia a Jesus teria acontecido durante o ano de noivado. Maria era, como dito, como uma mulher casada. Se não podia encontrar José, seu esposo, estar grávida significava ter infringido a lei do matrimônio, ter cometido adultério. Essa infração levava a mulher a ser condenada à pena de morte, como dito em Levíticos 20,10. Essa uma realidade que precisamos considerar quando lemos o que os evangelhos dizem sobre a infância de Cristo.

Pouco se diz nos evangelhos sobre José. É Mateus que presta especial atenção à figura do noivo de Maria, oferecendo-nos um retrato requintado e inesquecível de José. De fato, o primeiro Evangelista descreve como ele, a princípio, diante da gravidez inesperada da sua noiva, gostaria de sair respeitosamente de uma história maior do que ele, sem oprimir com sua presença a jovem mulher que ele ama profundamente, e a misteriosa criança que ela espera: "José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo" (Mateus 1,19).

O fato de José ser “homem justo” significava que era uma pessoa disposta a cumprir fielmente a vontade divina. Por isso, obediente à palavra de Deus, ele consignou sua própria vida a um plano que o transcende, aceitando a ordem tomar Maria com ele. Esta é a retidão de José, que não é simplesmente a retidão da observância escrupulosa dos mandamentos, mas a retidão que é uma busca integral da vontade divina, aceita com plena obediência. Ele permanecerá assim próximo de sua mulher como um marido fiel, e daquela criança como uma figura paternal positiva e responsável. A assunção desta responsabilidade se expressa no fato de que é José - segundo a ordem do anjo - quem dá o nome de Jesus ao filho gerado por Maria. O ato de dar o nome significa que ele dá a essa criança sua identidade social e que, precisamente por isso, Jesus pode ser reconhecido como um verdadeiro descendente de Davi, como exige a natureza do Messias esperado. Esta criança é, portanto, confiada à responsabilidade e ao amor de José e, através dele, Deus dá à história humana o maior penhor de sua fidelidade, aquele que é o "Emanuel", o "Deus-conosco" profetizado por Isaías. Naturalmente, tudo isso está envolto no mistério de Deus, que só pode ser acessado através da fé.