A pergunta, na íntegra, segue aqui abaixo:

É adequado um pai de família (com crianças, inclusive) vender tudo o que tem, dar aos pobres e viver de doação e esmola com sua família para que tenha tempo de se dedicar a missões evangelizadoras? Existem registros históricos e/ou modelos da tradição da Igreja que orientem quanto a isso?

Há muita gente no decurso da história que deixou tudo pra seguir Jesus. Muitos, ainda hoje, fazem isso. No mundo católico, os religiosos consagrados abandonam tudo o que têm e vivem em pobreza, castidade e obediência. Depois lhes é dado o necessário para a vida quotidiana, mas nada, no papel, possuem. E esse exemplo não se encontra apenas entre os religiosos consagrados; vários leigos também fazem escolhas radicais, às vezes por um período breve, mas outras por períodos cumpridos. E a história da igreja tem muitos exemplos de pessoas abnegadas, que deixaram tudo, e se colocaram, de maneira radical, a serviço de Deus. São Francisco, por exemplo, era de família rica e, na Idade Média, se despojou, literalmente de tudo numa praça, tirando inclusive as roupas que usava, dizendo que daquele momento em diante faria só a vontade de Deus. Paulo, como muitos discípulos da primeira comunidade, também foi uma pessoa que viveu despojado de tudo, vivendo graças ao seu trabalho, como construtor de tendas, pregando o Evangelho pelo reino romano, até chegar ao centro do poder de então, Roma.

Obviamente, a questão que você põe é muito articulada e não é possível resolver assim, com poucas palavras. Um pai de família faz uma ótima evangelização se cuida das crianças que têm; não pode sacrificar a vida delas por um “capricho”, mesmo se essa escolha é algo digno e louvável. Acredito que cada um precisa descobrir aonde Deus o quer, de que maneira deseja que anuncie a sua palavra. Talvez se você é um pai de família, com crianças, Deus já está indicando qual é o seu lugar, qual é a sua missão no seu Reino.

Não podemos ser inocentes e pensar que é fácil sustentar uma família com esmolas e muito menos pensar que a nossa dedicação a Deus trará automaticamente uma retribuição econômica. Apesar disso, acho que existem escolhas radicais que às vezes são necessárias e representam sinais proféticos. Repetindo, evitaria de colocar os filhos, principalmente se crianças pequenas, no meio dessas decisões.

Acho que hoje em dia temos necessidade de pessoas que fazem escolhas radicais, que relativizem o ganho e a propriedade e deem importância àquilo que conta, que é a vivência do Reino de Deus. Oxalá a graça de Deus suscite pessoas que atuem essa chamada e se ela é dirigida a nós, que o Espírito nos ilumine para descobrirmos a melhor maneira de coloca-la em prática.