A sua pergunta tem como fundamento bíblico o texto de Daniel 4. Nesse capítulo é narrado que o rei Nabucodonosor teve um sonho: uma árvore grande, no centro da terra, que chegava até os céus; um “vigilante” que desce do céu corta essa árvore e deixa apenas o tronco.

Nenhum sábio do seu reino soube explicá-lo ao rei, exceto Daniel, que aqui aparece com o nome de Baltassar. O servo de Deus diz para o rei que ele é a árvore, um grande rei, que, todavia, será removido por Deus. De Nabucodonosor, assim diz Daniel, explicando o sonho:

Expulsar-te-ão de entre os homens, e com os animais dos campos será a tua morada. Alimentar-te-ás de erva como os bois e serás banhado pelo orvalho do céu.

Desse reino de Nabucodonosor será conservado apenas um tronco, significando que o “seu reino será preservado até que hajas reconhecido que os Céus é que detêm o domínio de tudo”.

 

Um pouco de história e a interpretação desse texto de Daniel

Nabucodonosor foi um dos reis do Império Babilônico, que em 587 antes de Cristo conquistou Jerusalém, destruiu o templo e levou os judeus para o exílio na Babilônio, onde permaneceram por cerca de 40 anos. Ele governou de 605 a.C. até a sua morte, em 562 a.C. Esse contexto explica a sua importância para a bíblia, sobretudo pelo papel que teve na história do povo de Israel protagonista, em negativo, do exílio do povo na Babilônica, 5 séculos antes da vinda de Cristo. Tudo isso já deixa claro como a Bíblia não pode falar bem desse rei, que fez tanto mal para o povo eleito por Deus.

Sabemos bem que Daniel é um livro escrito bem depois dos fatos acontecidos no sexto século antes de Cristo, bem depois da vida de Nabucodonosor. Daniel foi escrito há 3 séculos antes de Cristo, quando o povo de Israel estava enfrentando a invasão dos gregos e a consequente helenização dos costumes e a perda de identidade nacional e religiosa do povo de Israel. Nesse momento, o povo precisava de alguém que mostrasse o poder de Deus, evocado através da história. É um momento oportuno pra relembrar o que aconteceu três séculos antes, quando o povo também esteve ameaçado pelo poder de Babilônia, que o livro do Apocalipse – herdeiro da literatura apocalíptica presente em Daniel – chama de “a grande prostituta”.

A mensagem que o profeta Daniel passa é que o poder aparente de um rei, inimigo de Israel, não significa nada diante do plano salvífico divino; Deus vence sempre e seus inimigos são ridicularizados, reduzidos a “animais”, ficando sem dignidade. É a mesma lógica presente no Apocalipse, quando Roma, que perseguia os cristãos, é comparada à “grande Babilônia”, que no final é julgada e cai.